A Conferência sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas (COP24), em Katowice, Polónia, terminou este sábado com um sabor agridoce. Os delegados de quase 200 países conseguiram chegar a acordo sobre o “livro de regras” para se implementar o acordo de Paris, mas questões essenciais para combater as alterações climáticas foram relegadas para a próxima conferência no Chile e há quem diga que muito mais poderia ter sido feito.
O documento debruça-se sobre os termos e métodos a serem usados pelos Estados signatários do Acordo de Paris, que estipulou a meta máxima de 2ºC até ao final do século, para se medir as emissões de carbono e acompanhar os progressos feitos a partir de 2024. Os Estados terão de apresentar a cada dois anos um relatório pormenorizado sobre quais as ações que estão a encetar para dar resposta às alterações climáticas e, de cinco em cinco, juntar-se-ão para fazerem um balanço global.
As dezenas de páginas do documento também incluem um acordo para se começar a trabalhar em novos objetivos para se aprofundar a assistência financeira aos países em desenvolvimento para que possam transformar as suas economias a favor do ambiente.
Todavia, o sistema de mercado de emissões de carbono, um dos assuntos mais prementes, teve de ser relegado para a conferência climática do próximo ano por o Brasil ter pressionado a favor da duplicação de créditos de emissão por ter a Amazónia no seu território. Se Brasília tivesse ido avante, poderia, no mínimo, continuar a produzir as mesmas emissões de carbono respeitando o tratado. Sem acordo, não restou aos delegados outra opção que não remeterem o assunto para o futuro próximo.
“Este é um bom acordo”, disse o comissário europeu para a Energia e Ação Climática, Miguel Arias Cañete, ao “Guardian”. “Temos de fazer mais, mas agora podemos avançar”. Expectativa partilhada por Nicholas Stern, antigo chefe economista do Banco Mundial, ao mesmo jornal: “Foi outra cimeira de duras negociações, mas finalmente foi bem sucedida na sua tarefa de acordar um chamado livro de regras para o Acordo de Paris”. Mas se o objetivo foi alcançado, continua o antigo economista chefe, o progresso no combate contra as alterações climáticas continua a ser “inadequado, dado a escala e a urgência dos riscos” que se enfrenta. Tempestades devastadoras, secas prolongadas, intensas vagas de calor e de frio, mudança das correntes, mega incêndios, subida do nível do mar e degelo no Ártico e na Antártida são algumas das consequências da subida da temperatura com que a humanidade se confrontará.
Este cenário voltou a ganhar força dois meses antes da conferência em Katowice ao ser retratado num relatório do Painel Internacional para as Alterações Climáticas. O documento garantiu que escasseia o tempo para se manter a subida da temperatura média nos 1,5ºC, mas acabou por ser recusado pelos Estados Unidos e Arábia Saudita em plena conferência.
“A minha maior preocupação é que as negociações da ONU falhem em alinhar as ambições com a ciência”, admitiu John Rockstrom, diretor do Potdsam Institute for Climate Impact Research, ao “Guardian”. Também Jennifer Morgan, diretora-executiva da Greenpeace, deixou críticas às lideranças políticas mundiais por um ano de “desastres climáticos e avisos dos mais reputados cientistas do mundo” não terem sido suficientes para que muito mais tivesse sido feito. “Ao invés, os governos desapontam novamente as pessoas por ignorarem a ciência”, denunciou, garantindo que “sem ações imediatas de pouco servirão as regras mais fortes”.