Para os pais de hoje, gerir os videojogos com os mais novos é um processo cada vez mais difícil. A oferta nesta área é extremamente atrativa e os jovens não lhe conseguem resistir. Os pais mais conscientes enfrentam um processo complicado para limitar o acesso a esta maçã envenenada, mas há também aqueles que não veem qualquer tipo de problema no facto de uma criança passar o dia inteiro em frente a uma consola ou a um telemóvel.
Em nossa casa ainda não aderimos a playstations e afins, mas os nossos filhos devem ser os únicos da escola sem estes aparelhos e os amigos devem imaginá-los a viver na casa dos Flinstones. Mesmo a maioria das famílias com mais dificuldades não dispensam uma consola com dezenas de jogos. Quando há uns anos trabalhei em bairros sociais contactei com crianças que podiam ir para a escola sem comer, que não tinham dinheiro para passeios ou visitas de estudo. Todos os pais se queixavam de dificuldades financeiras, mas era raro quem não tinha em casa um destes aparelhos.
Este ano, depois de algumas divergências sobre o assunto, a Organização Mundial da Saúde classificou os ‘distúrbios com videojogos’ como um problema de saúde mental, quando se verifica uma falta de controlo crescente que começa a ter implicações a vários níveis, como a alimentação, o sono, o humor ou o isolamento.
Não seriam necessárias provas científicas para verificar que o estímulo e vício deste entretenimento pode ser tão grande como o da nicotina ou outras drogas. Basta assistirmos ao efeito que a privação do mesmo tem em algumas crianças e jovens com uma maior propensão para esta dependência.
Não teria nada contra jogar de forma controlada e limitada alguns tipos de videojogos – embora continue a achar outros totalmente desadequados sobretudo em idades mais novas – não fosse o facto de rapidamente a vontade de jogar se tornar uma dependência. Por incrível que pareça, a partir dos dois anos já é comum vermos crianças que parecem hipnotizadas, agarradas aos telemóveis dos pais, alheando-se totalmente do que está à sua volta, exaltando-se de forma descontrolada e agressiva quando o aparelho lhes é retirado, acaba a bateria ou algo interfere com o jogo, bem como demasiado ansiosas pelo regresso do mesmo. Já ouvi até de várias crianças que preferem ficar sozinhas com um desses aparelhos a fazer outras coisas como estar com os amigos, ir a um treino de futebol ou praticar outras atividades bem mas saudáveis.
Este é um problema grave, que tem consequências nefastas na saúde das nossas crianças e jovens, e que tem de ser gerido com sensibilidade e bom senso. Os pais devem pesar se o tempo de tranquilidade que estes hábitos lhes garantem – e de prazer que parecem oferecer aos seus filhos – não poderá ter implicações muito negativas. Limitar o acesso deverá ser uma prioridade porque os mais novos não têm essa capacidade de autocontrolo. Seria importante crescerem com regras e não acharem normal abdicar de atividades mais reais, mais enriquecedoras e que contribuem para um desenvolvimento mais feliz e equilibrado, em troca de alguns minutos ou mesmo horas a deslizar os dedos naqueles poucos centímetros de ecrã.