Há uma semana, quando muitos de nós já tinham tudo planeado para o Natal e ansiavam pelo dia em que as cidades ficam quase desertas e o comércio e os serviços param, fomos surpreendidos pela queda de um helicóptero do INEM, dos que nem em dias especiais deixam de funcionar. É daqueles acontecimentos que nos fazem interromper os preparativos para pensar.
Sempre que uma fatalidade ocorre nesta quadra é inevitável imaginar como isso afetará o Natal daquela família, tanto nesse ano como nos que se seguirão. E nem é preciso acontecer nesta quadra. Quase todos nós já perdemos alguém especial, amigos ou familiares, mais ou menos próximos, que deixam filhos ou pais sem aviso e numa tristeza incondicional. Seja em que idade for e de que forma for, acaba por ser quase impossível uma família refazer-se de uma perda destas sem que fiquem enormes sequelas.
Ao mesmo tempo, por mais difícil que seja continuar em frente, não vejo outro caminho possível. Um dia seremos nós ou alguém de quem gostamos. E a única opção, ou pelo menos a mais sensata, será aproveitarmos tudo o que temos, mesmo que já não tenhamos tudo e todos os que desejaríamos, e cuidar do que temos e de quem temos, bem como guardar e recordar com carinho quem já não está connosco.
Da mesma forma, não julgo que faça sentido condenar aqueles que continuam nas suas compras de Natal, que se preocupam com coisas tão supérfluas que quase nos parecem insultuosas quando comparadas com assuntos mais sérios. No Natal e na vida pode haver espaço para tudo e tudo tem o seu lugar e valor. A importância dada às coisas depende de cada um. O único problema é quando demasiadas coisas pequenas nos fazem andar distraídos e ofuscam o que é verdadeiramente importante, que acaba por só assumir o seu real valor quando deixa de existir e se torna dramaticamente irrecuperável.
A dada altura da vida, enquanto crescemos, descobrimos a fatalidade da morte e somos assaltados por uma maior ou menor preocupação e medo. Apercebemo-nos de que, de um momento para o outro, de uma forma que não depende de nós, podemos deixar de existir ou perder alguém de quem gostamos muito, até mesmo uma pessoa sem a qual não imaginamos conseguir viver. É um medo natural e genuíno, que à medida que crescemos vamos apaziguando de forma a podermos prosseguir com alegria e tranquilidade. É essencial sabermos viver com esta imprevisibilidade, não de uma forma que nos paralise, nos iniba ou nos faça pensar que não vale a pena arriscar mas, pelo contrário, para darmos valor ao que temos e não hesitarmos em aventurarmo-nos a alcançar o que mais desejamos.
Que neste Natal possamos olhar em volta e valorizar tudo o que temos e damos por adquirido, todos os que nos rodeiam, que são um presente já velhinho e usado mas o maior que podemos desejar continuar a receber. Um Feliz Natal para todos!
filipachasqueira@gmail.com