O euro poderia ser mais uma simples moeda como tantas outras, mas desde o princípio que é para ser muito mais. É um instrumento económico com o objetivo de aprofundar a integração europeia, criando a chamada zona euro. O euro deixou de ser apenas uma ideia para passar a ser parte integral do projeto europeu com o Tratado de Maastritch, assinado em 1992 na cidade holandesa que lhe deu o nome. A 1 de janeiro de 2019 a moeda fará 20 anos, mas nem tudo correu bem desde que começou a ser transacionada nos mercados financeiros mundiais a 1 de janeiro de 1999 – a moeda física apenas entrou no dia-a-dia dos europeus a 1 de janeiro de 2002.
Antes do euro entrar em vigor, os Estados-membros (hoje 19) que assinaram o tratado europeu comprometeram-se a manter o défice abaixo dos 3% e a dívida pública abaixo dos 60%, como estipulado no então Pacto de Estabilidade e Crescimento, precursor do Tratado Orçamental de 2011. Portugal conseguiu fazê-lo com a venda de ações de empresas públicas e no final da década de 90 era já um bom aluno, mas, com uma economia desindustrializada e dependente do centro europeu, a dívida soberana voltou a aumentar para os números do antigamente. As taxas de juro ficaram indexadas às tabelas europeias e o crédito tornou-se barato. Os salários não aumentaram a par e passo com a inflação e o crédito foi a solução encontrada para estimular o consumo. Os bancos promoveram-no e o mercado imobiliário estimulou-o.
Tudo ia de vento em popa na Europa até a crise financeira explodir no outro lado do Atlântico. O euro ainda não estava em crise, mas os alertas não paravam de soar, até que em 2010 a crise das dívidas soberanas atingiu finalmente o continente, depois de vários bancos privados serem resgatados e de as taxas de juro subirem. A Grécia foi a primeira vítima, seguindo-se Portugal e Irlanda. Espanha foi alvo de um resgate parcial dirigido aos bancos e surgiram rumores de que Itália e França também precisariam de resgates. O euro não aguentaria mais resgates.
A zona euro ficou em risco e a austeridade foi a solução das instituições europeias e governos nacionais para salvar a moeda – e o défice e a dívida tomaram-se nos seus principais barómetros. Houve protestos e o euro passou a ser parcialmente odiado, principalmente as suas regras orçamentais, que se viriam a sobrepor à vontade democrática expressa nas urnas pelos gregos. A zona euro era um clube de países com regras não sufragáveis, alertaram os líderes europeus nos meses quentes do confronto entre Atenas e Bruxelas, em 2015.
Deram-se passos na união bancária, mas ainda assim insuficientes, faltando, por exemplo, a garantia comum de depósitos. Hoje, a crise do euro raramente surge nas notícias, mas não há garantias de que não volte – e em força.