É mãe solteira e, como fiscal de impostos, está habituada a ouvir pessoas em desespero a pedirem ajuda. Lori McLaurin nunca pensou que poderia um dia estar nessa situação, mas está, ela é um dos 800 mil funcionários da administração federal dos Estados Unidos que não recebe salário desde que o Governo foi encerrado parcialmente há mais de 20 dias. «Ouço imensas histórias», diz McLaurin à USA Today, explicando que «não sabe como essas pessoas ficaram naquelas situações. Mas esta, não foi culpa minha».
McLaurin é um dos americanos apanhados no meio do intenso braço de ferro político entre o Presidente Donald Trump e os democratas sobre a construção do muro na fronteira com o México. Os democratas, que hoje controlam a Câmara dos Representantes, recusam-se a incluir os 5,7 mil milhões de dólares para construir o muro no orçamento federal acordado com os republicanos. Trump não gostou de ver a sua principal promessa eleitoral bloqueada e não parece disposto a ceder, nem pelo bem-estar dos funcionários sem salário, nem pelo reembolso de impostos que pode vir a não acontecer, nem pelas três pessoas que morreram em acidentes nos parques nacionais, fechados por não terem guardas.
No seu primeiro discurso à nação desde que chegou à Casa Branca, na quarta-feira, Trump reafirmou os seus argumentos para defender a construção do muro – acusando os imigrantes de violadores, traficantes de droga e de seres humanos, usando uma interpretação própria das estatísticas para defender a sua posição.
«Ao longo dos anos, milhares de norte-americanos foram brutalmente mortos por aqueles que entraram ilegalmente no nosso país, e milhares de vidas serão perdidas se não agirmos agora», disse Trump, garantindo que «esta é uma crise humanitária – uma crise do coração e da alma».
Os líderes democratas foram céleres a reagir. Nancy Pelosi, líder da Câmara dos Representantes, afirmou que «muito do que temos ouvido do Presidente Trump ao longo desta paralisação sem sentido estava carregado de desinformação e até mesmo de malícia». Opinião partilhada pelo líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, que acusou Trump de ter usado uma prerrogativa presidencial para continuar com a sua «birra». «A maioria dos presidentes usaram os discursos da Sala Oval para objetivos nobres».
Na quinta, Trump abandonou de rompante uma reunião com Pelosi e Schumer, que classificou no Twitter como «total perda de tempo» e viajou para o Texas para fazer um discurso junto à fronteira insistir que o muro é imprescindível, que os mexicanos é que o pagarão indiretamente e deixou no ar a hipótese de declarar uma emergência nacional.