O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, vai pedir ao parlamento um voto de confiança no seu governo. O anúncio surge após a demissão, este domingo, do ministro da Defesa, Panos Kammenos, líder do partido Gregos Independentes (ANEL), que sustenta a atual solução governativa. Face à demissão, Tsipras nomeou Evangelos Apostolakis, líder das forças armadas, como ministro da Defesa.
A ruptura entre o Syriza de Tsipras e os seus parceiros de coligação é uma consequência do acordo assinado entre o governo grego e a República da Macedónia. Kammenos, que nunca concordou com a decisão, declarou: “A questão da Macedónia obriga-me a sacrificar o meu posto. Revogo o meu apoio ao governo. Os Gregos Independentes abandonam o governo”.
Na origem do diferendo está o facto de a Grécia ter uma província chamada Macedónia, pelo que os nacionalistas consideram que o nome da República da Macedónia é uma reivindicação implícita deste território. A entrada da Macedónia na UE e na NATO já foi, aliás, barrada várias vezes pela Grécia, país membro de ambas as organizações, devido ao conflito diplomático.
O impasse foi no entanto ultrapassado em 2018, quando os dois países chegaram a acordo para renomear a República da Macedónia como República do Norte da Macedónia. Aprovado pelo parlamento macedónio, o acordo só entrará em vigor após aceitação pelo parlamento grego. A votação deverá ocorrer nas próximas semanas.
O assunto desperta tensões nacionalistas na sociedade grega, sobretudo dado o legado histórico da região norte do país, enquanto terra natal de Alexandre o Grande. O ANEL, um partido conservador e eurocéptico que apoia o governo de Tsipras desde 2015, nunca escondeu a sua oposição a este desfecho.
Com 145 deputados, mais o apoio de um independente, entre os 300 que compõem o parlamento, o Syriza perde a maioria parlamentar caso os sete deputados do ANEL assim o desejem. Para já, Tsipras agradeceu o contributo “irreplicável e significativo” do ANEL, e anunciou: “Iremos iniciar imediatamente o processo delineado pela constituição para renovar a confiança no meu governo”.
Segundo a legislação grega, uma moção de confiança apresentada pelo governo pode passar com apenas 120 votos, caso haja suficientes abstenções para que os votos contra não sejam a maioria. Já uma moção de censura tem de ser aprovada por 151 votos.
Está por saber se, no clima de polarização da sociedade grega, sujeita a sucessivos programas de austeridade impostos por Bruxelas, a oposição conseguirá os deputados necessários para o chumbo da moção de confiança.
Kammenus já indicou que o seu partido não apoiará o Syriza. Ainda assim, a sobrevivência do governo poderá depender da opção tomada pelos deputados do ANEL, uma vez que alguns terão indicado que poderão não alinhar com o antigo ministro da Defesa.
Espera-se que o voto de confiança tenha lugar ainda esta semana. O presidente do parlamento grego, Nikos Voutsis, propôs a data de 16 de janeiro. Tsipras afirma que pretende a realização de eleições nacionais em outubro deste ano, no entanto, uma derrota da moção de confiança obrigaria a antecipar o Ato eleitoral.
De momento, as sondagens colocam o Syriza entre 8 a 12 pontos percentuais atrás do principal partido da oposição, o conservador Nova Democracia. Editado por José Cabrita Saraiva