John Bolton está obcecado com a mudança de regime em Teerão. A tal ponto que em setembro, depois de a área onde está situada o consulado dos Estados Unidos em Baçorá, no Iraque, ter sido atacada com morteiros por um grupo próximo do governo iraniano, o conselheiro nacional de segurança de Donald Trump pediu ao Pentágono que elaborasse planos de ataque contra o Irão.
De acordo com o “Wall Street Journal”, que divulgou a notícia, o pedido deixou os funcionários do Departamento de Defesa agitados: “As pessoas ficaram chocadas. É incompreensível a arrogância com que falaram sobre atacar o Irão”, referiu um membro do Departamento de Defesa ao jornal.
Desde que chegou ao governo que Bolton não esconde a sua vontade de regressar a outros tempos em que os Estados Unidos escolhiam os governos que queriam substituir no mundo e que começou, curiosamente, no Irão, com o golpe patrocinado pela CIA que derrubou o primeiro-ministro eleito Mohammad Mossadegh em 1953.
No domingo, o conselheiro nacional de segurança afirmou que não tem dúvidas de que “a liderança do Irão continua estrategicamente empenhada em conseguir armas nucleares”, apesar de tudo apontar para o contrário e de as duras sanções impostas por Washington começarem a fazer mossa na economia iraniana.
Bolton não descansa e está a rodear-se dos homens certos para garantir que essa política seja implementada pela administração de Donald Trump. O último a ser contratado para trabalhar com ele no Conselho Nacional de Segurança é Richard Goldberg, da Fundação para a Defesa das Democracias, think tank neoconservador de linha dura.
Goldberg é mais um falcão que reforça a equipa de Bolton, que olha para o Irão com os olhos do passado, como se ainda vivêssemos no tempo da Guerra Fria.
“A mudança de regime passou a ser um termo político muito carregado”, afirmou Goldberg num testemunho perante o Congresso. “Temos de olhar mais para uma política da era da Guerra Fria. Qual foi a política ganhadora da administração Reagan em relação aos soviéticos? Definitivamente, queríamos mudanças de comportamento.”
A diferença semântica não muda em nada a política de linha dura que Bolton está a levar Trump a implementar em relação ao Irão. Mudança de comportamento ou mudança de regime são a mesma coisa escondida por trás de uma fachada nova. “John Bolton deixa isso bem claro”, afirma Rudolph Giuliani, advogado de Trump, citado pela revista “The National Interest”. “É improvável que esses assassinos venham a mudar, como tal, isso quer dizer mudança de regime.”
As três granadas de morteiro rebentaram num terreno vazio e ninguém ficou ferido, e a administração acabou por não avançar com qualquer ataque militar contra o Irão ou interesses iranianos. No entanto, o pedido de um ataque militar contra Teerão por causa de um incidente menor deixou muitas pessoas no Departamento de Estado receosas de que a linha dura contra o Irão no governo norte–americano esteja à procura da mínima desculpa para avançar com uma resposta armada.
Em 2015, num artigo de opinião publicado no “New York Times”, Bolton mostrava claramente a sua posição pelo título “Para parar a bomba do Irão, bombardeiem o Irão”. E não descansou enquanto não viu os EUA abandonarem o acordo nuclear com Teerão e voltarem a impor sanções económicas ao país.