Muito provavelmente o livro mais inquietante que jamais li : The Day the World Exploded, de Simon Winchester. E, agora, Krakatoa explodiu oura vez. Também lhe chamam Krakatau: pequena ilha do Estreito de Sunda, entre Java e Sumatra, na Indonésia.
No dia 26 de Agosto de 1883, foi como se um Deus qualquer anunciasse o fim do mundo através das trompetas dos Cavaleiros do Apocalipse. Uma coluna negra de fumo e cinzas subiu pelo céu de domingo até atingir mais de 25 quilómetros de altura. 70% da ilha desapareceu, provocando um enorme tsunami seguido de diversas réplicas: era uma hora da tarde.
Wichester não tem dúvidas: «O maior ruído da história da Humanidade!»
Cerca de 36 mil e 400 mortos.
Na véspera, a atividade do vulcão de Krakatoa já não prometia nada de bom. Uma nuvem negra podia ser avistada a 27 quilómetros de distância. Os navios que operavam nas redondezas reportaram unanimemente uma turbulência marítima inusitada.
Uma onda de mais de cinquenta metros de altura viria a dizimar dezenas de povoações ribeirinhas das ilhas mais próximas. E propagou-se pelo Oceano Índico, ultrapassou o Cabo da Boa Esperança e sentiu-se no Mediterrâneo e no Canal da Mancha. Nuvens foram-se espalhando, escurecendo o céu, e o dia passou a noite. Demos uma olhada nesta passagem do livro de Winchester: « The sound was audible over 1/13 the surface of the globe. The shock wave registered on a barometer in London. The noise was heard at Alice Springs in the middle of Australia. Four hours after the massive explosion, 3,000 miles away on the island of Rodrigues in the western Indian Ocean, it was recorded as the roar of heavy guns».
Não era a primeira vez que Krakatoa explodia e, como sabemos, não seria a última. Já em 1115 foi de tal ordem que fez desaparecer o istmo que ligava Java a Sumatra.
Números, números e números.
Tal como se afundara no mar, a terra começou a reapararecer 50 anos depois. Curiosamente, a pouco e pouco: 7 metros por ano emergindo para formar uma nova ilha à qual deram o nome de Anak Krakatoa, A Filha de Krakatoa.
Entretanto, cadáveres iam dando à costa. Alguns deles viajaram até Zanzíbar, no sul de África.
Calcula-se que a explosão terá atingido os 310 decibéis, suficientes para rebentar os tímpanos de marinheiros que navegavam a 60 quilómetros de distância. Mais explosões e tsunamis se seguiram. «The energy released from the explosion has been estimated to be equal to about 200 megatons of TNT, roughly four times as powerful as the Tsar Bomba, the most powerful thermonuclear weapon ever detonated», escreve Winchester.
As consequências devastadoras do rebentamento da ilha de Krakatoa estenderam-se no tempo. As nuvens provocaram alterações nos ocasos, trazendo visões fantasmagóricas do pôr-do-sol, fenómeno que o pintor William Ashcroft retratou abundantemente. As temperaturas no Hemisfério Norte foram afetadas, descendo em média 1,2 graus, o clima manter-se-ia imprevisível até 1888, com precipitações inusitadas e tempestades violentas um pouco por todo o planeta cuja atmosfera recebeu um aumento global sulfúrico provocando as chuvas ácidas.
A última das explosões do vulcão nesse ano de 1883, datada do dia 27 de agosto fez as cinzas caírem em abundância num raio de mais de cinco mil quilómetros. Nem a Lua foi poupada: surgiu ora em tons de azul ora em tons de verde, transtornado o céu.
Na manhã do dia 28 o silêncio abateu-se sobre Krakatoa. Um silêncio de morte.