O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu ontem, num discurso no Pentágono, investimento adicional para se melhorar a defesa nuclear do país contra possíveis mísseis russos, chineses, norte-coreanos e iranianos. “O nosso objetivo é simples: garantir que conseguimos detetar e destruir qualquer míssil lançado contra os Estados Unidos”, disse Trump, pouco depois de a nova estratégia de defesa nuclear ser divulgada – a primeira desde a da administração Obama, em 2010. “Temos de garantir que as nossas capacidades de defesa não têm rival e são inigualáveis em qualquer parte do mundo”, acrescentou. Não referiu os adversários, mas também não excluiu ninguém. É mais um passo numa corrida ao armamento que tem subido de tom.
O congresso terá ainda de apoiar a mudança de estratégia ao aprovar os novos fundos e se tal acontecer, será a maior expansão e sofisticação do sistema de defesa antimísseis desde o programa “Guerra das Estrelas” da presidência de Ronald Reagan, na década de 80.
A nova iniciativa pressupõe também uma mudança de tática. Há anos que Washington se focava em combater ameaças de Estados párias, com foco na Coreia do Norte e no Irão, mas, agora, e ainda que esse foco se mantenha, acrescenta-se um outro objetivo: o da defesa dos Estados Unidos e seus aliados de ameaças regionais, como acontece na Europa e na região da Ásia-Pacífico com a Rússia e China, respetivamente. “Estamos a expandir o raio para o que nos precisamos de defender”, disse um membro de topo da administração Trump ao “Washington Post”.
Entre as várias defesas que integrarão a iniciativa encontram-se 20 novos intercetores de mísseis no Alasca e radares e sensores para detetar mísseis. Mas não é tudo. O Pentágono também está a estudar a possibilidade dos novos caças F-35 virem a ser equipados com mísseis capazes de destruir mísseis e veículos aéreos não tripulados com lasers que circularão nas proximidades da Coreia do Norte. Washington também poderá testar se os sistemas de defesa Aegis, utilizados por navios da marinha norte-americana, são capazes de abater mísseis, nomeadamente os intercontinentais desenvolvidos por Pyongyang, ou deslocá-los para território havaiano. E, por fim, construir um terceiro local de mísseis de interceção na costa leste do país e até enviar sensores de deteção para o espaço.
No que aos seus aliados diz respeito, Washington vai incentivá-los a construir os seus próprios sistemas de defesa antimíssil, seja na Europa, na Ásia ou no Médio Oriente.
Esta mudança de estratégia não se limita às capacidades de defesa, abrangendo também as ofensivas, pois, segundo o secretário de Defesa interino, Pat Shanahan, “a defesa de mísseis inclui necessariamente mísseis ofensivos”. Um elemento da administração garantiu, à CNN, que a iniciativa não está direcionada contra a China ou Moscovo, com Washington a ter “boas relações” com os respetivos líderes. Recorde-se, ainda assim, que os EUA estiveram em guerra comercial com a China, estando-se a cumprir uma trégua que termina daqui a 41 dias, e as relações com Moscovo têm piorado por causa do desenvolvimento de mísseis balísticos. No centro da tensão com Moscovo está a intenção de Trump abandonar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio, assinado com Moscovo, então União Soviética, em 1987, até ao final do próximo mês.
Washington mostra-se preocupada com a perda da hegemonia balística, uma vez que tanto a China como a Rússia, o Irão e a Coreia do Norte estão a desenvolver mísseis porventura capazes de ultrapassar as defesas norte-americanas. A capacidade de dissuasão dos EUA corre o risco de ficar diminuída, daí o abandono do tratado. Preocupações que saíra reforçadas esta quarta-feira com a divulgação do relatório da Agência de Inteligência de Defesa divulgado – dando conta da maior capacidade ofensiva destes estados.
A Rússia já anunciou ter desenvolvido um novo míssil hipersónico, o Khinzhal (adaga, em português), capaz de ultrapassar as defesas norte-americanas e de ser colocado no caça furtivo russo Su-57, deixando para trás o tão elogiado F-35. Já a China “está a desenvolver um leque de tecnologias para contrapor aos EUA e seus aliados”, segundo o mesmo relatório.