O Partido Popular abraçou o seu lado mais à direita na convenção nacional deste fim de semana em que, durante uma hora e dez minutos, Pablo Casado mostrou que quer recuperar as raízes fundadoras dos anos 1980, a memória espanholista e a tradição. Até convocou o antigo primeiro-ministro José María Aznar para lhe dar o cunho de regresso às origens.
“Nunca acreditei que o PP vença quando deixa de o ser. Peço-vos que não o aceitem. Se anulamos o nosso perfil, o eleitor vai-se embora. Se dizemos que a Espanha não é só um feito histórico, mas um feito moral, temos que agir em conformidade”, sublinhou Casado, num discurso duro, destinado a recuperar o seu eleitorado que fugiu para o Vox, o partido de extrema-direita com quem acaba de assinar um pacto de governo na Andaluzia.
“É preciso unir o voto para unir os espanhóis”, disse o líder do PP, ontem, no discurso de encerramento dos dois dias de convenção nacional do PP. “Não quero um partido pequeno, nem que saia para empatar. Quero um partido aberto de par em par à sociedade, que esteja sempre em guarda, ao serviço de todos os espanhóis”, referiu Casado. “Temos de que dar aos espanhóis a confiança sobre o que queremos fazer. As pessoas queriam que voltasse o PP e agora queremos que as pessoas voltem ao PP o quanto antes”, acrescentou.
Tal como aconteceu no congresso da sucessão de Mariano Rajoy o ano passado, em que conseguiu entusiasmar os delegados, ao ponto de vencer a favorita Soraya Sáenz de Santamaría na corrida à liderança, Casado voltou a galvanizar os presentes no discurso de ontem.
“Muitos querem imitar-nos, mas não conseguem. Não basta disfarçar-se de PP, nem imitar num karaoke os temas populares. É preciso saber sofrer, perseverar, enterrar 30 dos teus e continuar a sair à rua na defesa da liberdade. Recuperemos o nosso orgulho e mostremos como somos”, disse o líder popular para júbilo dos presentes.
Refundação da direita a partir dos valores clássicos do PP, liberdade económica e educativa, reforço institucional, reforma administrativa, aprofundamento da segurança e um combate “à peste do nacionalismo”, leia-se aos independentismos como o catalão, contra o qual prometeu mão dura, eis as grandes linhas políticas do partido.
Além de Aznar, Casado estava rodeado de outras das suas referências no partido, como Manuel Pizarro, a quem considera o seu “mestre”. a ex-presidente da Comunidade de Madrid Esperanza Aguirre, a ex-secretária-geral do PP María Dolores de Cospedal, a presidente do Congresso, Ana Pastor, bem como o presidente do Senado, Pío García Escudero.
Falando do acordo estabelecido com o Ciudadanos e o Vox na Andaluzia, Casado defendeu que seja multiplicado por todo país, para que “a maioria de centro-direita que já existe em Espanha se converta num governo de centro-direita eficaz” e consiga “derrubar de uma vez por todas esse muro de falsa superioridade moral da esquerda”. O líder do PP quer uma maioria “que recuse os cordões sanitários” em torno de partidos como o Vox. “Não proponho um país sem socialismo, mas não proponho um país onde o socialismo seja obrigatório, quero que seja voluntário”, concluiu.