O Open da Austrália já é o mais ecológico dos torneios do Grand Slam. O seu exemplo lidera um movimento de eventos desportivos mais sustentáveis, mas há ainda muito a fazer na educação dos jogadores.
Estava a comentar no Eurosport um encontro de Roger Federer no Open da Austrália quando o campeoníssimo dirigiu-se para a cadeira, retirou uma nova raqueta do invólucro de plástico que a revestia e entregou-o ao apanha-bolas que o colocou no lixo.
Vi aquela cena centenas de vezes, mas desta vez, sensibilizado pelas ilhas de plástico nos oceanos, percebi que estes comportamentos têm de mudar.
Muitos jogadores trocam de raqueta com a mudança de bolas, a cada nove jogos, e muitas delas vêm em plásticos. No final de uma temporada, são milhares de plásticos enviados para o lixo.
No tempo das raquetas de madeira, as encordoações eram protegidas por uma capa de pele, natural ou sintética, que nunca era deitada fora. Recordo-me do Bjorn Borg entrar no court com várias raquetas debaixo do braço, cada um com a sua capa.
Foi com Ivan Lendl, nos anos 80 do século XX, que se iniciou a moda das raquetas envolvidas em plástico. As empresas que tratam das encordoações e personalizam as raquetas dos campeões, por exemplo, com a colocação de punhos adaptados aos moldes das suas mãos, devolvem-nas nesses plásticos. A ideia é proteger a encordoação da humidade, mas tem de haver outra solução.
São cada vez mais os jogadores que abandonaram as garrafas de plástico que deitavam fora. São cada vez mais os que trazem as suas próprias garrafas reutilizáveis.
É um bom sinal, mas é preciso convencê-los agora de que não é ‘fixe’ serem vistos todos os dias, ao vivo e na televisão, a deitarem para o lixo milhares de sacos de plástico. O seu exemplo é poderoso e poderá ser adotado por milhões de fãs.
Perguntei ao João Zilhão se já pensara nisto e fui agradavelmente surpreendido. «Para a semana vou reunir-me com a Câmara Municipal de Cascais e vou pedir que o Millennium Estoril Open de 2019 seja ‘plastic free’. Não sei como o faremos. Tenho umas ideias», respondeu-me o diretor do único torneio português do ATP Tour.
Melbourne Park tem gigantescas cisternas subterrâneas, regas de água reutilizada, reciclagem de todos os resíduos, painéis solares, utilização exclusiva de madeiras de florestas sustentáveis e muitas outras medidas revolucionárias. Em Portugal não podemos sonhar com tanto, mas se o Millennium Estoril Open ajudar a mudar a mentalidade de alguns jogadores já estará a dar um primeiro passo.