Não é novidade que de geração para geração tudo acontece mais cedo. Mas não é por isso que deixamos de ser apanhados de surpresa quando nos deparamos com a forma repentina como as crianças crescem.
Se antigamente aos sete e oito anos a maioria das crianças eram ingénuas e inocentes, ainda limitadas e protegidas pelo mundo dos pais, agora muitas começam já a estar despertas para o exterior, para o grupo de amigos, novos ídolos e toda uma realidade a que até então não davam importância. À medida que se começam a identificar com estes novos modelos, os pais passam a ficar de fora e começam a surgir conflitos e atritos.
É uma fase dura para quem cuidou carinhosa e incansavelmente, para quem criou laços especiais e profundos que achava inabaláveis. E chega sempre cedo demais. Os pais tendem a comparar o filho em transformação com o que foi durante aqueles anos de namoro e sentem-no a fugir, a modificar-se, sempre para pior, porque é para diferente daquilo que desejam e imaginavam. Como é natural, dificilmente crianças de sete ou oito anos terão os mesmos gostos e as mesmas vontades que adultos de 30 ou 40!
Por seu lado as crianças vivem o presente desmedidamente, com entusiasmo e curiosidade, a saborear cada descoberta. Começam a libertar-se de um mundo feliz, mas mais restrito, para se aperceberem que têm um mar de possibilidades, de coisas que podem ser, fazer ou escolher. Não olham tanto para o passado, do mais longínquo – que os pais guardam e preservam para a vida – nem se lembram, e vivem incessantemente o presente com os olhos postos no futuro. Já os pais tendem a ter dificuldade em libertar-se do que ficou para trás. Quem estará a ver melhor as coisas? Quem tem a atitude mais saudável?
Queremos que os nossos filhos sejam livres e independentes, mas temos dificuldade em deixá-los crescer.
Na verdade a pré-adolescência é uma fase difícil para todos, porque acarreta também para os mais novos uma série de desafios, de inseguranças e medos. É uma fase de mudança, que põe todos à prova. E o nosso papel só pode ser o de apoiar e guiar o caminho do crescimento e independência que aqui começa, embora de forma ainda imatura e incipiente. Não ridicularizar as escolhas e tendências, por mais absurdas que nos pareçam. Também nós fizemos as nossas e sabemos como algumas nos parecem agora descabidas. Provavelmente as deles também não vão durar para sempre, mas agora são importantes, para se afirmarem e crescerem. Devemos guiar e alertar, não deixar de impor regras e limites, mostrar que crescer não é incompatível com boa educação e respeito. Devemos arranjar estratégias para manter o diálogo, nunca os deixando sozinhos. Por mais difícil que seja aceitar a mudança, é essencial respeitá-la, para que não se abra um fosso intransponível entre gerações.
Preocupante é não crescer, não adolescer, não haver procura e transformação. Não arriscar ser diferente dos pais e perder uma vida nova, só com o intuito de agradar. Por melhor que possa ter sido estar no ninho, chega uma altura em que se tem de encontrar coragem para sair à descoberta e isso só é possível aprendendo a voar pelas próprias asas, como nós também fizemos – ou, se não fizemos, devíamos ter feito.
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