«Quando vamos a um museu, olhamos para os quadros, dizemos: é bonito, não é bonito, gosto, não gosto. Mas o que vimos? Um objeto plano codificado que pouco nos disse. Se tivéssemos olhado realmente para ele, este ter-nos-ia revelado o seu significado, os seus mistérios, os seus sinais escondidos, as suas fantasias, as suas crenças; teríamos visto monstros, grutas escondidas, construções misteriosas, animais fantasmagóricos, soldados adormecidos, crianças», introduz Philippe Starck sobre a sua interpretação do programa 12 Escolhas do Museu Nacional de Arte Antiga.
O designer francês escolheu 40 Fragmentos da pintura portuguesa que desconstroem o imediatismo estético e procuram ver além do olhar. «Gostaria de vos pedir que procurassem 40 fragmentos de quadros. Se os encontrarem, é porque viram, escrutinaram, compreenderam realmente a sombra e a luz, transcenderam a matéria e abriram a porta dos mistérios do imaginário. Ver é compreender», convida.
A exposição já pode ser vista no Piso 3 do Museu Nacional de Arte Antiga e faz parte do programa em que o museu convidou 12 personalidades a escolherem, de acordo com o seu critério, 12 peças das coleções, definindo um ‘roteiro’ pessoal e assumidamente subjetivo.
O programa foi iniciado a 18 de maio, Dia Internacional dos Museus, com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, o único convidado português. Seguiram-se 11 estrangeiros com ligações a Portugal ou a viver no país: já ‘expuseram’ Amyn Aga Khan (junho), André Jordan (julho), Monica Bellucci (agosto), Lidija Kolovrat (setembro), Matteo Consonni (outubro) e Robert A. Sherman (novembro).
Starck, o septuagenário francês, figura central do ‘design democrático’, criador, arquiteto e diretor artístico crente na ideia de que «qualquer ato criativo deve ter por fim melhorar a vida das pessoas» optou por desconstruir o padrão do projeto. Escolhendo 40 fragmentos de cerca de 30 pinturas portuguesas do século XV ao XIX). E em vez de as peças escolhidas surgirem identificadas nas próprias galerias do Museu (com o logótipo do projeto e a identificação do convidado que a escolheu), nenhuma das peças escolhidas se encontra identificada. O método usado propõe a cada visitante, uma ‘caça ao tesouro’ para que, observando as obras de arte expostas no Museu, consiga, como num jogo, «encontrar» os 40 fragmentos escolhidos. Porém, esse não é o troféu, mas antes que cada visitante se comprometa com a exposição e veja as obras de arte para além do sugerido por um primeiro olhar emotivo. Porque «ver é compreender», diz.
«Estamos tão habituados a ver a lua que a vislumbramos como um crescente em papel dourado sobre um papel azul noite. Se a víssemos realmente, compreenderíamos que se trata de uma enorme esfera muito longínqua no universo e que o vazio à sua volta é uma primeira abordagem do infinito», incita Philippe Starck aos visitantes. E «num esforço derradeiro, encontrem a vitrina do mistério absoluto», encoraja. «Aquela que vale todos os quadros pois é a porta que dá para o vosso próprio imaginário», remata sobre a exposição.
Ele que criou utensílios do quotidiano (dos espremedores de citrinos ao mobiliário) para hotéis. restaurantes e iates de luxo e ainda um módulo habitacional para turismo espacial – que o tornou mundialmente famoso – escolheu Lisboa, onde diz sentir-se muito bem, para viver com a família.
Enquanto o mistério está à espera de ser descoberto e resolvido no Museu Nacional de Arte Antiga, chega ao mercado uma coleção de mobiliário de 16 peças já antes desenhadas por Philippe Starck para a empresa italiana Cassina, como o sofá Volage EX-S e as cadeiras Caprice and Passion, A novidade é a utilização de estofos de um novo tecido vegano chamado Apple Ten Lork. O objetivo da criação é explorar processos experimentais, na procura por materiais alternativos.
O Apple Ten Lork é um tecido criado a partir de maçãs, que seriam desperdiçadas. Esses resíduos iriam para aterros ou seriam queimados.