Para muitos psicólogos não há margem para grandes discussões. Somos mesmo muito resistentes às mudanças. É assim que funcionamos. Temos necessidade de criar hábitos, padrões e rotinas várias. Mesmo que exista vontade de mudar, resistimos. Há pessoas a quem custa menos, mas custa a todos.
Muitas vezes, simplesmente queremos caminhar numa nova direção, mas a ideia dura menos do que gostaríamos.
Porquê? Porque voltamos ao passado e isto de estranho não tem nada, se pensarmos na questão munidos das ferramentas da neurociência. O caminho até ao passado, seja em forma de relações antigas ou até de vícios que já deixámos para trás, é muito fácil de fazer e bem podemos agradecer ou culpar dois elementos por trás desta forma de sermos. Tanto a oxitocina como a dopamina têm mais a dizer do que aquilo que gostaríamos de ouvir.
Há pouco tempo, uma psicológa explicou publicamente, num trabalho sobre relações, que a dopamina é um neurotransmissor que tem mais responsabilidade na forma como funcionamos do que muitos pensam. “É responsável por sentimentos como amor, luxúria e vícios (…) É a mediadora do prazer. Aquela que nos faz agir, motivando-nos para determinados objetivos”.
Todos nós temos ou conhecemos histórias de pessoas que estiveram vários anos ligadas a uma relação que lhes fazia mal, mas esse facto não era suficiente para que fosse colocado o ponto final. Nos vícios, por exemplo, a história repete-se. Os fumadores entendem que o vício tem de ser eliminado, que o cigarro lhes faz mal, mas permanecem dependentes dele. Consegue lembrar-se de alguma vez em que tenha enviado uma mensagem de madrugada sem perceber o verdadeiro motivo para ter feito tal coisa? Se lhe aconteceu, o melhor é entender o que dizem os especialistas.
Determinado vício ou pessoa provoca uma reação no cérebro. Quando deixamos de a ter, a falta ganha espaço e avançamos para compensar. A oxitocina, também ela tão importante, junta-se à festa sendo responsável por determinados comportamentos ou vícios que desenvolvemos. Tiramos da nossa vida determinada coisa ou pessoa e depressa sentimos que é necessário ir atrás porque nos faz falta. No entanto, não fiquemos por aqui. Ainda que importe muito entender estes processos, existem outros fatores: Há características pessoais que pesam e quase todos os especialistas admitem que, em muitos casos, é preciso um trabalho de auto-conhecimento para entender o que nos leva a regressar a pessoas, hábitos ou até relaçoes que nos fizeram ou fazem mal.
A mudança
Mudar hábitos e comportamentos está, no entanto, ao alcance de todos. Um trabalho, publicado no El País, explica que é preciso pouco para que mudanças aconteçam da forma certa e duradoura. Basta que sejam escolhidas mudanças que não entrem em choque com a nossa escala de valores e treinar até que o hábito se instale. Estudos apontam para o facto de serem necessários apenas 66 dias para mudar um hábito. É este o período necessário para que o cérebro se reorganize.
No entanto, é necessário não esquecer o peso de vivermos realidades cada vez mais rápidas e em permanente transformação. Neste contexto, mudar hábitos transforma-se num verdadeiro suplício. Porquê? “Porque queremos tudo e tem de ser para já”. É aqui que entram em ação as forças do demónio que nos fazem não abrir espaço suficiente para que determinada mudança vire hábito e se instale para ficar. “No início, o cérebro lembra o que já está automatizado, o hábito de comer um doce ou não praticar exercício, até que se ‘educa’ e acaba por adquirir as novas regras e formas de se comportar em relação à comida, por exemplo”.
A verdade é que a velocidade com que tudo acontece mudou-nos. A tecnologia veio facilitar o acesso que temos uns aos outros. Mas, por exemplo, a lógica de termos as pessoas à distância de um click tem facilitado ou complicado as relações? De acordo com Jorge Gravanita, presidente da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica, “aparentemente, tudo é mais fácil. Criou-se uma ilusão de grande facilidade, mas não passa de ilusão. Com a Internet parece que temos dados que nos permitem saltar uma data de passos, mas as pessoas continuam a ter dificuldades de entendimento, até mesmo com as pessoas mais próximas. Além disso, não podemos olhar para isto com a lógica dos supermercados”.
“Tudo é mais fácil e também mais rápido, a vida é agora porque o mundo pode acabar amanhã. Vemos isso no imaginário coletivo dos filmes de extermínio/invasão terrestre”, defende ainda Maria do Carmo Cordeiro.