Quem passa junto ao número 38 da Avenida da República não dá conta de que no interior do Palacete Viscondes de Valmor, atual Clube dos Empresários, estão a ser feitas obras. Não há barulho, as movimentações são poucas e a licença para obra não está fixada à entrada – como está, por exemplo, no edifício mesmo ao lado.
Sendo este um palacete distinguido com um Prémio Valmor, o edifício apenas pode sofrer obras de conservação, sendo que a sua estrutura, como por exemplo, a fachada, não pode ser alterada. O Prémio Valmor foi atribuído ao Palacete Viscondes de Valmor em 1906 pela conjugação de «elementos neorromânticos, neoclássicos, de Arte Nova, para além de fazer alusão ao padrão da Casa Portuguesa», segundo consta no site da CML. Além disso, sendo também classificado como Imóvel de Interesse Público – em 1977 – é obrigatório que seja submetido um projeto de conservação à Câmara Municipal de Lisboa (CML) para aprovação, quer da Câmara Municipal, quer da Direção Geral do Património Cultural (DGPC).
O SOL questionou a Autarquia de Lisboa no dia 18 de janeiro sobre se tinha conhecimento de que as obras estavam em curso, tendo a Câmara de Lisboa, a 21 de janeiro, intimado «os proprietários do Palacete Viscondes de Valmor (…) a realizar obras de conservação».
A resposta ao SOL só acabaria por chegar depois de uma nova insistência, na última quinta-feira.
O ultimato da Câmara Municipal foi, por isso, enviado depois de as obras terem começado. E, no esclarecimento agora enviado, a câmara explicou que na sequência da intimação feita «decorrem trabalhos de limpeza do logradouro, corte e desbaste de arvoredo, consolidação do muro que delimita a propriedade, reparação do respetivo gradeamento e substituição dos vidros partidos», informou ainda a CML.
Projetado pelo arquiteto Miguel Ventura Terra e construído nos anos de 1905 e 1906, o Palacete Viscondes de Valmor já foi edifício de habitação, albergando o Clube dos Empresários – um restaurante de luxo – desde 1983. Em 2007 ainda era o local de encontro dos empresários da cidade de Lisboa, conhecido como o sítio ideal para fazer negócio, mas foi encerrado pela ASAE por falta de condições. Abriu portas dias depois e voltou a encerrar. Hoje, o que está à vista não é mais do que a degradação do edifício, árvores cortadas, vidros partidos, janelas fechadas e a entrada e saída dos que fazem obras no edifício, pelo menos desde meados de janeiro.
O Prémio Valmor foi criado em 1902 e fundido com o Prémio Municipal de Arquitetura em 1982, este já distinguiu cerca de setenta edifícios e monumentos que representam o que de melhor se faz em termos arquitetónicos na capital. Os últimos prémios foram atribuídos em 2017, referentes aos quatro anos anteriores, já que o reconhecimento não é feito todos os anos.