Há um ano a Câmara Municipal de Almada apresentou os primeiros traços do projeto de requalificação do Cais do Ginjal e da antiga área industrial Margueira, em Cacilhas. Na altura, o anúncio foi de que o projeto arrancaria até ao final do primeiro trimestre de 2019. A dois meses do prazo, aguarda-se ainda a aprovação do Plano de Pormenor para a zona, que o SOL sabe que estará para breve. Contactada, a autarquia de Almada não se comprometeu com datas. Fonte oficial esclareceu que o município se encontra neste momento «a trabalhar na requalificação do Largo de Cacilhas, em articulação com diversas entidades, nomeadamente os operadores de transportes públicos», adiantando que assim que houver «uma proposta concreta para a intervenção naquele local, será devidamente divulgada».
Em março de 2018 começou a vislumbrar-se o futuro daquela zona ribeirinha. O presidente da Baía do Tejo – empresa pública responsável pela requalificação de algumas áreas no Barreiro, Seixal e Almada – fez então o ponto de situação: «A desafetação do território, que ocorreu em 2017, foi um passo fundamental para se poder avançar. O projeto ‘Cidade da Água’ está em fase de ser definido o modelo e o caderno de encargos para se iniciar a fase de decisão e penso que no primeiro trimestre de 2019 estará nas mãos de um promotor».
Um mês antes desta declaração, a presidente da Câmara Inês Medeiros já tinha falado sobre o projeto. Em declarações ao jornal Público, afirmou que o Ginjal é a «grande porta de entrada de Almada», admitindo que este é o sítio «onde os almadenses têm melhor acesso direto ao rio».
Comparando o projeto à Expo 98 na capital, Inês Medeiros disse que esta proposta vai «redefinir o eixo da cidade» e que quem estiver no Terreiro do Paço e olhar para Almada passará a ter «a mais bela vista». Na altura, o jornal i revelou que o projeto do Cais do Ginjal inclui toda uma reconfiguração da zona, com casas, hotéis, lojas, restaurantes, praças e um passeio marítimo com largura suficiente para uma travessia em segurança.
Teixeira Sousa, administrador do grupo AFA – ao qual pertence o terreno onde se localiza o Cais do Ginjal -, afirmou então que o objetivo deste projeto é «tornar o território abandonado do Ginjal num ícone da Margem Sul», mas que para isso terão de ser investidos «muitos milhões».
Ainda em 2018, o assunto voltou a ser levantado. Desta vez pelo CDS-PP de Almada, que em outubro defendeu a urgência na requalificação da zona do cais. «Os representantes do CDS-PP em Almada estiveram esta terça-feira, da parte da manhã, no Ginjal e zona circundante, para observar o que já é do conhecimento de todos. Uma zona nobre do concelho, totalmente degradada e com muitos perigos à espreita à integridade física das pessoas e dos seus bens», disse o partido num comunicado, emitido na altura.
No documento, o CDS alertava para o «perigo de derrocada, piso sujeito a abatimento, falta de iluminação, local demasiado isolado a certas horas do dia, buracos e falta de barreiras de segurança». E dizia esperar que depois de «mais de quatro décadas de executivo comunista, com muitos planos pormenor, muitas maquetas, muitos anúncios, muitas promessas» que «o executivo de Inês de Medeiros, independente nas listas do PS, [pudesse] ter uma visão estratégica para Almada totalmente diferente e mais ambiciosa que os antigos executivos comunistas que pouco ou nada fizeram», revelava a nota.
Projeto ambicioso não escapa a críticas
O projeto é ambicioso e tem como objetivo dar uma nova cara à zona ribeirinha banhada pelo Tejo. A proposta de requalificação daquela zona começou a ser pensada em 2009. Mas apenas foi retomada em 2017: em julho desse ano a autarquia apresentou a primeira proposta da requalificação. Parte do projeto assenta na transformação de antigos armazéns industriais em mais de 300 fogos de habitação, um hotel e num parque de estacionamento com espaço para 500 lugares. Planos que não estão isentos de críticas. «Apelidar de ‘regeneração’ e ‘qualificação’ a algo que se resume a, basicamente, construir em todo o lado onde houver espaço vago neste cais que é hoje de memórias e memoriais à era industrial, é teatro do absurdo», escreveu em janeiro no Público Paulo Ferrero, fundador do Fórum Cidadania Lx. «Do que se trata de facto é de operação imobiliária em grande escala. E de demolições em barda. Novos arruamentos e muitos prédios novos.»