Nove mulheres foram assassinadas, num país com pouco mais de dez milhões de habitantes. Aqui ao lado, em Espanha, com quatro vezes mais habitantes, foram mortas sete mulheres entre 1 de janeiro e a última segunda feira.
Já no ano anterior, as 28 mulheres assassinadas pelos companheiros deixavam Portugal num quadro bem mais negro do que acontecia aqui ao lado, onde no ano de 2018 foram mortas 47 – em números absolutos não chegava ao dobro e, por isso, em percentuais era muito inferior. Mas nestes primeiros dias do ano, Portugal superou qualquer previsão negra, com uma percentagem maior de mulheres assassinadas em contexto familiar do que em muitos outros países da União Europeia.
E mesmo se se fizerem as contas verifica-se que em Portugal houve uma percentagem maior de femicídios do que em países que costumam ser apontados como casos preocupantes neste tipo de criminalidade, como é o caso do Brasil. Segundo o i apurou, no primeiro mês do ano morreram no Brasil – país com mais de 200 milhões de habitantes – à volta de 100 mulheres por agressões em contexto familiar, às mãos dos maridos e namorados. Ora, se Portugal tivesse a dimensão do Brasil, considerando uma taxa de femicídio idêntica à dos primeiros dias de 2019, já teriam morrido 180 mulheres vítimas de violência doméstica.
No Reino Unido, durante todo o ano de 2017 morreram no total 137 mulheres. Segundo o “Guardian”, três quartos destas mulheres conheciam o seu agressor – ou seja, só 32 vítimas foram mortas por desconhecidos (onde se incluem as vítimas de atentados).
Este dado é relevante para perceber qual o peso que os assassinatos em contexto de violência doméstica têm no total de mulheres mortas. Segundo um relatório global das Nações Unidas, publicado no final do ano passado, mais de metade dos assassinatos de mulheres foram levados a cabo pelo seu companheiro ou familiares.
Das 87 mil mulheres mortas em 2017, o relatório Femicídio 2018 conclui que 58% morreram às mãos do seu marido, namorado ou outro familiar. De acordo com os dados, em média foram assassinadas 137 mulheres todos os dias daquele ano. Desse total de 50 mil mulheres mortas por companheiros ou familiares, 20 mil crimes registaram-se na Ásia, 19 mil em África, 8 mil nas Américas, três mil na Europa e 300 na Oceânia.
E se por um lado é verdade que a maioria dos homicídios é sobre homens, por outro, isolando os casos de crimes sobre mulheres, a maioria destes acontece num contexto de violência doméstica ou de um problema com um familiar. Algo que é considerado muito problemático no referido relatório.