A fórmula Portela + Montijo, para resolver o problema de falta de capacidade do atual aeroporto da capital portuguesa, continua debaixo de fogo. O estudo que avalia as questões ambientais não está pronto, mas o acordo foi assinado. Permanece, por isso, a dúvida: se o Governo continua a insistir que não há nenhum outra opção, o que acontece se a solução da Base Aérea do Montijo não reunir as condições necessárias para que esta solução seja aprovada? O Governo, que tem sido fortemente criticado pela forma como apenas admite uma das opções – a aprovação da Portela + 1 –, garante que esta hipótese «é um grande problema para o país».
De acordo com Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, «caso venha, eventualmente, a chumbar-se esta solução – o que não acredito, porque o aeroporto vai ser desenvolvido num sítio onde já está um aeroporto – qual era o problema? Era um grande problema para a Área Metropolitana de Lisboa e para o país».
Para o Executivo de Costa, é urgente que a solução avance rapidamente e que se perceba a falta de alternativa. É assim que o Governo vê a questão. «Com certeza que o Estudo de Impacto Ambiental e as medidas de monitorização e mitigadoras que vierem a ser definidas incorporarão as questões de ruído e os impactos na avifauna. São os dois descritores mais críticos do estudo e certamente que serão adotadas as medidas que se vierem a resultar da declaração de impacto ambiental que se espera obter para aquele investimento». Tudo o que resto, em matéria de alternativas, é, de acordo com o Governo, «inviável». Quando questionado sobre a opção do Campo de Tiro em Alcochete, por exemplo, Pedro Marques rejeitou perentoriamente a hipótese: «Não é só um problema de uma década de atraso, é o problema de não saber sequer como se pagaria esse aeroporto construído de raiz no Campo de Tiro. Um aeroporto complementar construído a mais de uma hora de transportes públicos da cidade era o mesmo que construir um aeroporto fantasma».
Mas o Governo usa ainda outros argumentos. «Esta solução responde aos problemas com uma solução combinada. É duradoura, é eficiente e paga com as taxas, além de que reúne consenso político suficiente. Do nosso ponto de vista, serve a realidade do país na situação em que nos encontramos, e teríamos um problema gigantesco sem um aeroporto complementar», referiu, acrescentando ainda que poderia levar a uma perda de 114 milhões de passageiros, durante os anos de construção da infraestrutura.
Nada parece conseguir afastar o Governo da solução Montijo. Costa insiste em dizer que não há Plano B e muitos asseguram que a solução é esta porque a Vinci «quer». «Não discuto mais se a decisão é certa ou errada, esta é a decisão», disse António Costa sobre a solução Montijo + Portela, que tem estado, desde cedo, envolvida em várias polémicas.
Já no dia do acordo entre o Estado e a ANA – Aeroportos de Portugal, Costa tinha sido firme na intervenção que fez. Tão firme que deu a entender que, com estudo ou sem estudo, o Montijo deverá ser a nossa realidade em matéria de expansão da capacidade aeroportuária: «A decisão é esta e há que a pôr em prática».
Com o acordo assinado fica definido que «a ANA investirá 1,15 mil milhões de euros até 2028, incluindo 650 milhões de euros para a primeira fase da extensão do atual aeroporto de Lisboa, e 500 milhões de euros para a abertura de um novo aeroporto civil no Montijo. Já 156 milhões de euros serão investidos para compensar a Força Aérea e melhorar acessos ao Aeroporto Humberto Delgado e ao futuro aeroporto no Montijo».
Costuma dizer-se que manda quem paga e não falta quem acuse o Governo de estar a deixar esta ideia sobrepor-se ao interesse do país. O tema tem merecido a atenção dos portugueses e esta solução em particular tem levantado questões várias, nomeadamente, as que se ligam a grandes interesses económicos. Satisfeitos com a decisão estão setores como o comércio, a indústria e o turismo. Aliás, a solução de um aeroporto complementar no Montijo tem um apoio generalizado no seio dos agentes económicos. A Autoeuropa, a Navigator Company, Secil ou Lisnave estão entre as que mais aplaudem esta ideia e contam com a jóia da coroa: a própria Vinci.
Numa opinião, publicada no Jornal i, Joana Mortágua explicava: «A Vinci ganhou a privatização da ANA – Aeroportos de Portugal e, com isso, o monopólio no setor. É a ANA quem manda onde se vai construir o novo aeroporto. Porquê? Porque o governo quer construir uma das infraestruturas mais importantes para o país sem gastar um cêntimo. Aquela que para nós é uma discussão complexa, porque é estratégica para o futuro, para a Vinci é uma conta simples: qual é mais rápido e barato? Montijo». A somar a isto está o facto de a Lusoponte ter como principal acionista a Vinci. Aliás, em agosto do ano passado, era notícia que foi exatamente a certeza de o aeroporto do Montijo ia para a frente que fez com que a Mota-Engil e a Vinci decidissem reforçar na Lusoponte. Os dois grupos aceitaram pagar 23,3 milhões de euros pela parte que a Teixeira Duarte detinha na Lusoponte.