«Trabalharemos com Bannon para resgatar a soberania de forças progressistas, globalistas e elitistas e para expandir o nacionalismo de bom senso para todos os cidadãos latino-americanos.» Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, passou a ser o representante para a América Latina do The Movement, a organização que Steve Bannon, o homem que ajudou Donald Trump a chegar à Presidência dos Estados Unidos, está a usar para expandir no mundo as suas ideias populistas de direita.
«The Movement tem a honra de dar as boas vindas a Eduardo Bolsonaro como parceiro ilustre e ao Brasil, como aliado chave na região», divulgou em comunicado a organização de Bannon, o próprio que esta semana deu uma entrevista à Folha de S. Paulo onde ataca o vice-presidente Hamilton Mourão – e por extensão os militares que fazem parte do governo de Bolsonaro e acabam por estragar a estratégia de permanente confronto que é condição essencial para a afirmação da «agenda nacionalista e populista», uma «missão» para a qual Eduardo Bolsonaro se mostrou «muito orgulhoso» de ser escolhido.
Bannon garante que «não há ninguém melhor que Eduardo» para «trazer o poder das elites globais de volta ao homem comum». Com o filho do Presidente brasileiro como ponta de lança do movimento, o estratega de extrema-direita quer «agregar apoiantes» expandir as ideias, «reunir pessoas».
O homem que idealizou a corrida de Trump à Casa Branca e depois acabou por não aguentar muito tempo como conselheiro especial do Presidente que ajudou a eleger, não disfarça o que realmente pretende com a escolha de Eduardo Bolsonaro, querendo «colocar gente influente das finanças, pessoas interessadas em investir, agentes de startups, ações públicas e privadas em empresas brasileiras». Em suma: «Construir relações e intercambiar ideias».
Tudo isto surge na semana em que começou a nova legislatura no Congresso brasileiro, momento para completar a mudança de 180º na política brasileira que começou com a eleição de Jair Bolsonaro para Presidente. Mesmo que o PT continue a ter a maior bancada na Câmara de Deputados, tanto os deputados como os senadores escolheram homens de direita para a presidência das câmaras. E com duas curiosidades simbólicas da nova era da política que 2019 trouxe ao Brasil: pela primeira vez desde o regresso da democracia em 1985, o PMDB (hoje MDB) não lidera pelo menos uma das câmaras do Congresso; em segundo, tanto o presidente da Câmara dos Deputados (Rodrigo Maia), como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, são membros do Democratas (DEM), herdeiro do Arena, o partido que a ditadura militar (1964-1985) criou para sua sustentação política.
O Arena resultou no Partido Democrático Social, quando a democracia regressou ao país, e de uma dissidência deste saiu o Partido da Frente Liberal que em 2007 se rebatizou como Democratas. Apesar de ter apenas 27 deputados (em 513) e seis senadores (em 81), domina agora o poder legislativo, com o pormenor de Alcolumbre, jovem senador do pequeno estado nortenho do Amapá, antigo protegido de José Sarney, dever a sua eleição para líder do Senado ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que negociou nos bastidores a derrota de Renan Calheiros, do MDB, que se candidatava ao quinto mandato.
«As bancadas temáticas (boi, bala e Bíblia) precisavam de um partido para articulá-las. o DEM, na Casa Civil e na presidência das duas casas, se habilita para exercer a função em troca de poder. Desde o fim da ditadura que espera esse momento», escreveu Fernando Haddad, o candidato presidencial derrotado no Twitter.