Escondem-se entre ramos e até mesmo dentro de árvores. A lagarta do pinheiro e a vespa asiática são espécies diferentes, mas constituem uma ameaça para a saúde pública, uma vez que quando entram em contacto com a pele das pessoas podem provocar alergia, urticária e dor forte, o que, em alguns casos, implica uma ida ao centro de saúde ou ao hospital.
Nos últimos anos tem-se falado numa intensificação da presença destas espécies em Portugal. Mas porque razão? A resposta é diferente para as duas espécies. No caso da vespa asiática – que chegou ao território português em 2011 – Nuno Forner, da associação Zero, explica que esta praga ocorreu devido à «globalização do transporte de pessoas e mercadorias que por vezes promovem em simultâneo o transporte de espécimes em conjunto com a carga». Por outras palavaras: sempre que um avião abre os porões, agarradas às malas ou no seu interior podem estar uns bichos muito pouco recomendáveis: as vespas velutinas.
O responsável adiantou ainda que esta espécie se encontra em «expansão» em Portugal, mas não falou em descontrolo da praga.
Contactado pelo SOL, fonte do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural disse não existir motivo para alarme, afastando a possibilidade de a praga se encontrar numa situação de descontrolo: «Não há uma situação de descontrolo relativamente à praga da vespa asiática», adiantando que esta é uma espécie que tem «vindo a progredir gradualmente de norte para sul e do litoral para o interior do país».
Certo é que foi desenvolvido um plano de ação – chamado de Plano de Ação para a Vigilância e controlo da Vespa velutina em Portugal. Este plano «prevê que o controlo da espécie» seja feito através da destruição dos seus ninhos ou colónias.
O problema até pode estar controlado, mas na passada terça-feira o Governo apresentou uma Campanha Nacional de Combate à Vespa velutina, «disponibilizando um apoio de um milhão de euros às autarquias para levarem a cabo as ações de destruição dos ninhos, da sua competência». «Dos cerca de 17 mil ninhos identificados até hoje em território nacional», desde que a vespa chegou ao país, já foram destruídos 75%, revelou a tutela ao SOL.
«A vespa asiática é uma predadora natural das abelhas e de outros insetos, o que pode eventualmente originar impactos significativos na biodiversidade, em particular nas populações de outros insetos. A redução da população de abelhas pode ter como consequência a redução da atividade polinizadora, fundamental para o desenvolvimento dos ecossistemas», explicou a mesma fonte governamental.
Nuno Forner partilha da mesma visão. A vespa é uma «espécie invasora» carnívora que se alimenta de abelhas e outros insetos polinizadores, «a sua atuação provoca desequilíbrios nas populações de insetos com consequências imprevisíveis nos ecossistemas, para além de económicos, seja na produção agrícola ou ao nível da apicultura».
E é melhor prevenir do que remediar. Nuno Forner explicou que sempre que alguém encontrar um ninho desta espécie de vespa não o deve destruir, mas sim chamar as autoridades competentes – neste caso poderá ligar para a linha SOS Ambiente (808200520) ou então contactar a junta de freguesia. «Em caso algum deverá por iniciativa própria tentar destruir um ninho, dado que o mesmo deve ser sempre feito por elementos preparados para o efeito. Um procedimento sem o cumprimento das regras poderá conduzir à fuga das vespas da colónia, que irão dar origem a novas colónias, ou em último caso, dar origem a um ataque por parte das vespas que colocará em risco a vida de quem estiver nas imediações do ninho», completou.
Esta espécie está presente em quase toda a área a norte do Tejo e ainda em algumas áreas do Alto Alentejo. Contudo, se quiser saber se na sua zona há ninhos desta vespa pode sempre ir ao site da Plataforma SOSVespa – gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) – e observar a distribuição geográfica da mesma.
E a lagarta do pinheiro?
O caso da lagarta do pinheiro é diferente do da vespa asiática. Não se trata de uma espécie invasora, mas tem um ponto em comum com a vespa: nos últimos anos tem-se falado mais nesta praga devido às alterações climáticas que se têm feito sentir.
O Ministério da Agricultura refere que esta espécie é influenciada «pelas condições meteorológicas, nomeadamente temperatura e precipitação», e que por essa razão «não existe um padrão de aumento ou diminuição da praga da lagarta do pinheiro», afastando assim a hipótese de que esta espécie esteja fora de controlo. «Não há qualquer descontrolo relativamente à praga da lagarta do pinheiro», reiterou.
Ao contrário da vespa asiática, a lagarta do pinheiro não constitui uma ameaça para o ecossistema. O que este animal pode fazer é «conduzir a uma redução do crescimento das árvores no período em que ficam desfolhadas», explicou a tutela.
De acordo com o responsável da Zero, este animal é uma «espécie desfolhadora de pinheiros e cedros», tendo um impacto significativo no número de pinheiros, podendo originar uma «redução da produção de madeira», mas no ecossistema pouco impacto tem quando comparada com a vespa asiática.
Apesar de o impacto que causa na natureza ser menor, o ICNF também tem um plano de ação – que pode ser consultado no site oficial do ICNF – para controlar esta praga: é feita uma remoção dos ninhos e instaladas e monitorizadas armadilhas, bem como aplicados inseticidas.
Uma vez que este animal – que se encontra espalhado um pouco por todo país – quando entra em contacto com a pele pode causar urticária e alergia é aconselhável a que sejam adotadas medidas de proteção como «uso de luvas, máscara para nariz e boca, óculos e utilização de proteção no pescoço» para remover os seus ninhos, alertou a tutela.
Recomendações
O primeiro conselho é evitar o contacto com estes animais, mas quando se entra em contacto com existem certos comportamentos que se devem ter em conta para se proteger.
No caso das vespas asiáticas, geralmente as picadas ocorrem «devido à perturbação com vibrações dos ninhos que possam estar enterrados ou perto do solo», elucidou Nuno Forner. Por essa razão, o responsável adiantou que antes de as pessoas fazerem «intervenções que promovam vibrações» – como limpeza de florestação ou regas – devem estar atentos à área que os circunda.
Relativamente às lagartas – que costumam sair das árvores entre janeiro e abril, com o objetivo de completar a sua metamorfose – a prevenção do contacto entre humanos e este animal pode ser feita, segundo o especialista da Zero, de três maneiras diferentes.
Primeiro, se estiver em zonas florestais que não pertencem à sua propriedade e encontrar este animal, deve «simplesmente afastar-se». Em segundo lugar, se estiver numa zona urbana ou num espaço público e encontrar este animal, deve seguir o mesmo conselho e chamar a Proteção Civil, a Câmara Municipal ou outra autoridade competente. «No caso de se tratarem de escolas e outros locais onde estejam presentes crianças, impedir, sempre que possível, o acesso à zona das árvores atacadas», acrescentou.
E, por fim, se a lagarta foi encontrada na sua propriedade «deve tomar as medidas necessárias e recomendadas para controlar ou eliminar a presença do inseto, evitando a sua dispersão». Para conseguir fazer isso corretamente deve entrar em contacto com as autoridades competentes de maneira a «identificar a melhor forma de intervenção».
Se por algum motivo começarem a aparecerem «sintomas de alergia» deve dirigir-se de imediato ao posto médico mais próximo.
Mas o contacto com a lagarta do pinheiro é bem pior para os cães e outros animais, já que pode ser fatal, segundo avisa a Direção Geral de Saúde. Nada como estar atento e sempre que leva o seu animal de estimação à rua certifique-se que nos pinheiros próximos não há lagartas…