A Ordem dos Médicos (OM) quer aumentar o tempo das consultas, nalguns casos para o dobro, tanto no Serviço Nacional de Saúde como no privado. A proposta da OM – que também será enviada ao governo a dar conhecimento destas recomendações – prevê, por exemplo, que uma primeira consulta de medicina geral e familiar para adultos deva demorar, no mínimo, entre 35 e 40 minutos.
Nos casos de diagnósticos que levam a um acompanhamento do paciente pelo mesmo médico, as consultas que decorrerem no prazo de um ano devem passar a ter uma duração mínima entre 20 e 30 minutos, defendem os clínicos.
Além da medicina geral, os médicos querem que uma consulta de psiquiatria infantil passe para os 60 ou 90 minutos. As cirurgias gerais devem passar a ter uma duração de 30 minutos.
Em traços gerais, hoje, uma consulta tem uma duração de 15 a 20 minutos. E é este o cenário que os médicos querem mudar porque entendem que “muitas vezes não têm o tempo que deviam ter” para o primeiro contacto com o doente.
Por isso, o bastonário dos médicos, Miguel Guimarães, apresentou uma proposta de alargamento e padronização do tempo de consultas que a partir de hoje vai estar em discussão pública durante os próximos 30 dias. Mais tarde, em abril, a versão final do documento – que vai reunir os contributos dos médicos – será votada pelos clínicos e entrará em vigor.
Recorde-se que no dia em que tomou posse, o bastonário Miguel Guimarães frisou que um dos seus principais objetivos era dar primazia à relação médico-doente. E, dois anos depois, o bastonário apresenta esta proposta. “A relação médico-doente é a porta de entrada na saúde”, frisou Miguel Guimarães, acrescentando ainda que é preciso preservar “a qualidade e os direitos dos doentes”, que muitas vezes se perdem com o pouco tempo de consultas.
Além disso, também tem de ser preservada “a qualidade do trabalho dos próprios médicos”, atirou ainda Miguel Guimarães.
A proposta da Ordem dos Médicos alerta também para o cenário que hoje existe, com várias consultas marcadas para a mesma hora e falhas recorrentes nos sistemas informáticos.
Novas regras em todos os hospitais até ao final do ano Depois de aprovadas pelos médicos, as regras vão ter efeitos imediatos. No entanto, o bastonário explica que haverá um período para que os hospitais e centros de saúde, tanto do SNS como do privado, se adaptem aos novos tempos de consulta. “Vamos ter de prever um tempo para as regras serem aplicadas” de forma a conseguirmos verificar se os tempos de consulta “conseguem ser aplicados”, explicou Miguel Guimarães.
A meta da ordem é aplicar as novas regras em todos os hospitais e centros de saúde do país até ao final deste ano, estimou o bastonário.
Segundo Miguel Guimarães, a padronização do tempo de consultas vai permitir aos médicos organizarem melhor o trabalho. “Quando era um jovem médico no Hospital São João, os doentes eram todos marcados às oito da manhã e depois esperavam (…). Ia vendo de forma aleatória, consoante a hora de chegada, era uma coisa feita sem organização”, exemplifica.
Apesar de, hoje em dia, a organização do trabalho ser diferente, a hora de marcação “acaba por não ser cumprida porque existem demasiados doentes marcados, às vezes, até à mesma hora, ou até com tempos inaceitáveis e, portanto, este documento pretende reverter esta situação”.
O bastonário diz não estar à espera de resistência por parte das unidades hospitalares mas, ainda assim, prevê que surjam alguns desafios que podem levar a uma redução do número de doentes atribuídos a cada médico de família ou a um reforço da contratação de médicos.
Os últimos dados do Ministério da Saúde revelam que há ainda, pelo menos, meio milhão de portugueses sem médico de família.