O advogado pessoal de Trump e antigo presidente da Câmara de Nova Iorque a apelar ao fim da “ditadura teocrática em Teerão”, mesmo sendo o comício em Varsóvia, na Polónia, não causa estranheza. John Bolton, antes de ser escolhido por Trump para conselheiro nacional de segurança, também defendeu a deposição do regime iraniano numa palestra organizada pelo mesmo grupo. O que causa estranheza é que o Mujahedin-e-Khalq (MEK), o grupo iraniano dissidente em questão, era até há uns anos considerado terrorista por Washington.
O MEK, que era considerado uma seita pela administração dos EUA, esteve envolvido em atos violentos contra norte-americanos na década de 1970 e chegou inclusive a apoiar o cerco à embaixada norte-americana em Teerão, em 1979. Nos anos 1980, esteve ao lado de Saddam Hussein contra o Irão, sendo visto pelos iranianos como traidor, e ajudou o então presidente iraquiano Saddam Hussein a reprimir a rebelião curda de 1991 com armas químicas.
Até 2011, o Departamento de Estado manteve o grupo na lista de organizações terroristas. No entanto, Giuliani, que foi pago para falar no comício polaco, mas não quis divulgar ao “Financial Times” quanto recebeu, é advogado do MEK há 11 anos. O que fazendo uma rápida operação aritmética se percebe que já era advogado do grupo quando em Washington ainda a consideravam terrorista e não um aliado contra o regime iraniano.
A notícia do “Financial Times” centra-se no facto de Giuliani ter causado algum embaraço à diplomacia norte-americana que, a poucos quilómetros, participava numa conferência sobre o Médio Oriente, organizada pelo mesmo Departamento de Estado que tinha o MEK na sua lista negra. Uma conferência de alto nível com a participação do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, e do secretário de Estado, Mike Pompeo. O Irão não foi convidado, mas estava também o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, grande opositor de Teerão.
Questionado se informou Trump sobre a sua participação na conferência, Giuliani limitou-se a dizer que já participado em outras ações do grupo e que Trump sabia. “Não sei se sabe que estou aqui agora”, acrescentou.
O MEK, explica o site de investigação “The Intercept”, tem recebido milhões de dólares de financiadores ocidentais para reinventar a sua imagem, transformando-se num partido político moderado. “Para esse fim, fez um lóbi de sucesso para ser removido da lista de organizações terroristas estrangeiras do Departamento de Estado em 2011”, explica o site, referindo que o fez “pagando valores entre 10 mil a 50 mil dólares a políticos de ambos os partidos”.