Com o Orçamento do Estado de 2019 chumbado, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, convocou eleições antecipadas para 28 de abril. Serão as terceiras eleições em Espanha em apenas três anos e meio. Segundo as mais recentes sondagens, o mais provável é que o impasse político continue depois das novas eleições.
«Um Governo tem a obrigação de cumprir a sua tarefa: aprovar leis, governar, avançar. Quando alguns partidos bloqueiam a tomada de decisões há que convocar eleições», justificou o primeiro-ministro. Como último e simbólico ato desta legislatura, o Executivo aprovou esta sexta-feira um decreto a ordenar a exumação dos restos mortais do ditador Francisco Franco do monumento do Vale dos Caídos, em Madrid.
Depois, o líder socialista entrou em pré-campanha eleitoral ao defender a sua governação desde que chegou ao Palácio de Moncloa, em junho do ano passado: «Recuperámos a universalidade da saúde pública, atualizámos as pensões, impulsionámos uma nova lei de proteção de menores e reforçámos os recursos contra a pobreza infantil». E, apontando para o futuro eleitoral, enumerou as prioridades do seu Governo se o eleitorado espanhol o apoiar: «A consolidação do crescimento económico, a criação de emprego e a reforma das instituições democráticas»- esta última poderá dar azo a uma revisão constitucional para ultrapassar a crise independentista ao dar mais competências ao governo regional.
O orçamento chumbado, continuou Sánchez, estava focado nas questões sociais e no desemprego, criticando os independentistas por «preferirem falar de autodeterminação» em vez de tudo o resto. «Há derrotas parlamentares que são vitórias sociais», sublinhou.
Na quarta-feira, os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e do Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT) votaram contra o Orçamento do Estado de 2019, juntando-se ao PP e ao Ciudadanos na votação (191 votos contra 158), e contribuíram para deitar abaixo um Governo de frágil equilíbrio. Os independentistas defendiam um referendo vinculativo sobre a autodeterminação, hipótese sempre recusada tanto pelo PP como pelo PSOE e Ciudadanos. Sánchez suspendeu as negociações com o Executivo da Catalunha e os catalães votaram contra.
A crise independentista estava ligada à sobrevivência do Governo, com a direita a acusar Sánchez de «trair» Espanha ao ceder nas negociações, o que não fez. O líder socialista tem um Governo minoritário com o apoio parlamentar do Unidos Podemos, nacionalistas bascos e independentistas catalães.
Em reação ao anúncio de Sánchez, PP, Ciudadanos e Vox cancelaram a manifestação deste domingo contra o Executivo e a exigir eleições. Albert Rivera, líder do Ciudadanos, aplaudiu a «rutura» dos socialistas com os aliados, garantindo que o seu partido contribuirá para uma «nova maioria». Já Pablo Casado, líder do PP, comemorou dizendo que «Sánchez atirou a toalha».
Sànchez tinha duas datas em cima da mesa para as eleições antecipadas, a 14 ou 28 de abril, evitando a hipótese do superdomingo, juntando as eleições legislativas às municipais, autonómicas e europeias, a 26 de maio. Os líderes do PSOE temiam que o independentismo se transformasse no principal tema da campanha, fragilizando os socialistas e fortalecendo a direita. Além disso, Sánchez receia que o arrastar da campanha desgaste a sua imagem e pretende aproveitar a indignação contra o independentismo, o PP e o Ciudadanos pela sua queda.
Quase todas as sondagens mais recentes dão a vitória ao PSOE, mas sem possibilidade de conseguir uma coligação capaz de governar, porque a direita, juntando as intenções de voto de PP, Ciudadanos e Vox, conseguiriam a maioria absoluta. A única exceção é a sondagem do CIS que dá o PP em quarto e uma maioria de PSOE com o Unidos Podemos. NO entanto, tendo em conta, as margens de erro, há uma possibilidade muito plausível de esquerda e direita acabarem com uma votação muito próxima, sem possibilidade de construir uma maioria no Congresso. PP, Ciudadanos e Vox alcançariam 174 lugares, enquanto PSOE, Unidos Podemos, PDeCat, ERC e nacionalistas bascos teriam 173.