Exportar: A tábua de salvação do Calçado

O setor tem vindo a conquistar balanços positivos ano após ano, mas enfrenta novos desafios. Entre eles, está a necessidade de conseguir «afirmar-se nos mercados externos».

O calçado português tem vindo a fortalecer a importância que conquistou no contexto internacional. Esta semana, Milão foi a montra do que se faz por cá neste setor. Cerca de 90 empresas portuguesas participaram naquela que é a maior feira internacional do calçado. Juntas – estas empresas que rumaram a Itália – são responsáveis por 500 milhões de euros em exportações. A ajudar na promoção da qualidade nacional está ainda o facto de Luís Onofre [ver texto ao lado] ter sido escolhido para liderar a Confederação Europeia da Indústria de Calçado.

O peso que as empresas deste setor tem nas contas nacionais levou o ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, e do secretário de Estado da Economia, João Correia Neves, a estarem presentes. Portugal foi, aliás, de acordo com a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), «a segunda maior delegação estrangeira, naquela que é a mais importante e prestigiada feira de calçado do mundo, logo a seguir a Espanha». O verdadeiro motivo de todo este investimento é fácil de entender se pensarmos no que têm sido as previsões para este setor. Este ano, por exemplo, o calçado português tem como pilar estratégico conquistar «a afirmação nos mercados externos».

Com apoio do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (Compete), o setor espera conseguir investir mais de 18 milhões de euros em promoção já que faz parte das do leque das grandes prioridades «aumentar as vendas do exterior, diversificar os mercados de destino e o leque de empresas exportadoras». O alvo é muito claro: «Promover o ‘upgrade’ [melhoria] de imagem das marcas do setor e fomentar uma imagem de excelência das empresas e dos seus produtos».

Para quem questiona o motivo de as forças estarem concentradas nestes objetivos, referidos como prioritários, importa recordar que, em 2018, o crescimento das exportações de calçado em volume foi de 2,4%, para 85 milhões de pares. No entanto, esta subida não foi suficiente para impedir que os alarmes soassem porque os valores não foram suficientes para evitar uma quebra de 2,85% em valor, para 1 904 milhões de euros.

«A Indústria Portuguesa de Calçado conta atualmente com mais de 340 marcas graças a uma estratégia setorial de valorização das coleções, dos produtos e do made in Portugal. O Programa Operacional COMPETE 2020 tem sido um forte auxiliador no impulsionamento do setor a nível internacional», destaca a entidade.

Recorde-se que, em 2015, ficava claro a importância destes apoios para o setor do calçado: fez a o calçado crescer 59%. Na data em questão podia dizer-se que, desde 2006, as exportações da indústria aumentaram 39% em quantidade, passando de 63,7 milhões para 88 milhões de pares, e 59% em valor, crescendo de 1166 milhões para 1850 milhões de euros. Analisando a evolução dos últimos anos, em 2014, por exemplo, era atingido um novo peso do setor que conseguiu um novo recorde de vendas. Como se conseguiu este crescimento? Com ajuda. Com um investimento de 55 milhões de euros em internacionalização, entre 2007 e 2013, Portugal conseguiu exportar um total de 754 milhões de pares de sapatos, no valor global de 11 578 milhões de euros.

Agora, a indústria espera, com estes novos investimentos, conseguir a mesma proeza. De acordo com a APICCAPS, «o abrandamento das principais economias mundiais para onde a indústria portuguesa de calçado exporta mais de 95% da sua produção terá afetado o setor e contribuído para o desempenho final». Mais: «o Fundo Monetário Internacional reviu em baixa as perspetivas de crescimento para 2018 e revelou-se menos otimista para 2019».

O grande objetivo é conseguir fazer face a estes desafios, até porque aumentar as exportações não chega. No ano passado, um dos cenários que mais preocupava era o facto de o setor do calçado continuar a exportar cada vez mais, mas com perdas de rentabilidade. No retrato feito pelo Banco de Portugal ficava claro que o volume de negócios continuava a aumentar, mas as pedras no caminho eram muitas. A rentabilidade dos capitais próprios continuava a diminuir e podia mesmo dizer-se que seis em cada dez euros do ativo das empresas estavam a ser financiados por capitais alheios. Na Análise Setorial da Indústria do Calçado, divulgada pelo Banco de Portugal, «a rendibilidade dos capitais próprios da indústria do calçado foi de 9% em 2016, tendo diminuído 2 pontos percentuais face a 2015. Pela primeira vez no período 2012-2016, a rendibilidade do setor foi inferior à registada pelas indústrias transformadoras (10%)».