Wallace Smith Broecker, um dos primeiros cientistas a alertar para as alterações climáticas, e que popularizou o termo "aquecimento global", morreu aos 87 anos, esta segunda-feira. O cientista era investigador e professor catedrático na universidade de Columbia, tendo morrido no hospital de Nova Iorque de doença prolongada.
Broecker cunhou o termo "aquecimento global" em 1975, num artigo que previa corretamente que o aumento nos níveis dióxido de carbono na atmosfera levaria a um aumento significativo da temperatura do planeta. "Wally era único, brilhante e combativo", afirmou Michael Oppenheimer, professor na universidade de Princeton, contando que Broecker "não se deixou engnar pelo arrefecimento na década de 70", tendo "deixado as suas opiniões bem claras, mesmo quando havia poucos dispostos a ouvir". O colega de Broecker não tem dúvidas: "As suas descobertas foram fundamentais para interpretar a história climática da Terra".
O cientista foi das primeiras pessoas a reconhecer a importância da circulação termoalina, a rede de correntes oceânica globais movidas por diferenças na densidade da água, causadas por gradientes de temperatura e de salinidade. Estas correntes incluem a corrente do Golfo, que passa ao largo de Portugal, distribui o calor e mantêm o clima da Europa ameno. Sem essa corrente a Europa entraria numa idade do gelo, com a temperatura média no inverno a descer mais de 36 graus.
Os estudos de Broecker revelaram que a circulação termoalina "é o calcanhar de Aquiles do sistema climático", e que bastaria uma ligeira alteração de temperatura para que se alterasse. O cientista popularizou assim a noção de "ponto de não retorno", ou seja, o aumento de temperatura global a partir do qual o fenómeno se torna uma bola de neve fora de controlo, recheada de surpresas desagradáveis e ameaçadoras para a vida humana e para os ecossistemas.