Se ignorarmos as Guerras da Jugoslávia (1991-2001), a Europa vive um período de paz que dura há mais de 46 anos. O mesmo é dizer que desde a fundação da União Europeia, com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1957, a Europa vive o seu mais longo período de paz em 2000 anos.
Ignorar o papel da CECA, da Comunidade Económica Europeia (CEE) e da União Europeia (UE) neste feito é impossível. E por detrás deste enorme feito estão os 11 pais fundadores da UE: Paul-Henri Spaak, primeiro-ministro do Reino da Bélgica e principal responsável pelo Tratado de Roma (1957); Jean Monnet, diplomata francês responsável pelo reaproximação entre a Alemanha e a França; Robert Schuman, Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Francesa responsável pela idealização da CECA; Altiero Spinelli, membro da resistência italiana na II Guerra Mundial, autor do Plano Spinelli o qual viria a culminar no Tratado de Maastricht (1992); Alcide De Gasperi, primeiro-ministro da República Italiana, e idealizador do Conselho da Europa, uma organização intergovernamental com vista a reaproximar os Governos europeus no pós-guerra; Joseph Bech, primeiro-ministro do Grão-Ducado do Luxemburgo, e facilitador na criação da CECA ao organizar a Conferência de Messina; Sicco Mansholt, membro da resistência neerlandesa durante a II Guerra Mundial, assistiu à Grande Fome Neerlandesa, experiência que o marcou e o fez idealizar a Política Agrícola Comum (PAC) como forma de tornar a Europa o mais autossustentável possível em termos agrícolas; Johan Beyen, Ministro do Negócios Estrangeiros dos Países-Baixos, principal arquiteto do mercado único; Winston Churchill, primeiro-ministro britânico e acérrimo defensor dos Estado Unidos da Europa; Konrad Adenauer, chanceler da República Federal da Alemanha e responsável por reatar as relações franco germânicas; e Walter Hallstein, primeiro presidente da Comissão da CECA e responsável por alargar o mercado único a outro bens.
Ignorar o trabalho e esforço de Paz destes 11 homens é ignorar tudo o que a União Europeia tem feito ao longo da maior período de paz que este continente já viveu, é ignorar o desenvolvimento socioeconómico alcançado por 50 países, onde mais de metade, atualmente 28 e com a saída do Reino Unido 27 países, optaram por cooperar no maior projeto democrático e político alguma vez arquitetado na História da Humanidade.
Nas sempre atuais palavras de Jean Monet: «Não haverá paz na Europa, se os Estados forem reconstituídos com base na soberania nacional… Os países da Europa são demasiado pequenos para garantir aos seus povos a prosperidade e o desenvolvimento social necessários. Os estados europeus devem se constituir em uma federação …». A UE não é perfeita, está longe de o ser, mas pensar que o soberanismo, defendido por certos partidos como a Aliança e o CDS-PP, e o nacionalismo como defendido pelos antidemocráticos PCP, BE, Verdes e extremas-direitas são a solução, é mera ilusão.
Num mundo cada vez mais globalizado, quanto mais depressa avançarmos para os verdadeiro Estados Unidos da Europa, maiores serão as possibilidade de um crescimento socioeconómico sustentável no longo prazo dominado por potência económicas não democráticas.