A Interpol deteve esta semana em Itália o advogado luso-brasileiro Leonardo José Muniz no âmbito da Operação Lava Jato. O pedido da equipa de procuradores do Paraná foi autorizado pela 13.a Vara Federal de Curitiba. O suspeito é, segundo as autoridades brasileiras, cúmplice de Raul Schmidt, outro luso-brasileiro que, quando estava prestes a ser extraditado, conseguiu nacionalidade portuguesa de origem, o que travou o processo.
“De acordo com as investigações, nos últimos anos, Leonardo José Muniz de Almeida foi o principal responsável pela lavagem do produto dos crimes praticados por Raul Schmidt Felippe contra a Petrobras [petrolífera estatal prejudicada pela teia de corrupção desmontada pela Lava Jato]. Isso ocorreu por intermédio da criação do The Lake Trust na Nova Zelândia, para a subsequente aquisição de imóveis em Lisboa em proveito de Schmidt, mas registados formalmente em nome de empresas vinculadas ao trust neozelandês, sempre utilizando os valores das comissões ilícitas obtidas em contratos com a estatal”, revelou ontem o Ministério Público brasileiro, referindo que este trabalho partiu de uma cooperação jurídica internacional com Portugal e de uma colaboração menos formal com as autoridades neozelandesas: “Estas autoridades relataram operações suspeitas para a aquisição de dois apartamentos usados por Raul Schmidt Felippe durante sua fuga para Portugal, que estavam registados em nome de empresas neozelandesas relacionadas ao The Lake Trust, que tinham Leonardo Muniz Almeida como procurador”.
“De acordo com as autoridades neozelandesas, os dois imóveis se localizavam na Rua de São Mamede, n.o 9, Lisboa, Portugal. O primeiro foi comprado em 17 de maio de 2015 pelo valor de
€ 2.000.000,00 (dois milhões de euros) e estava registado em nome de Lago Holding Limited. O segundo imóvel era a fração “a” (sobreloja) do mesmo endereço, sendo adquirido na mesma época pelo valor de €1.025.000,00 (um milhão e vinte e cinco mil euros), estando registado em nome da Likos Holding Limited”, acrescenta o MP.
Segundo os investigadores, “os recursos financeiros utilizados nos negócios vieram de contas ocultas em nome de empresas offshores controladas por Raul Schmidt Felippe Junior no exterior”. Tais contas, acrescentam, foram abastecidas integralmente com luvas recebidas em contratos celebrados entre a norueguesa Sevan e a Petrobras.
A investigação acredita que os imóveis pertencem a Raul Schmidt e que o facto de não terem ficado em seu nome foi uma forma de dissimular o negócio.
“O pedido de prisão aponta ainda que Leonardo Muniz Almeida emprestava o seu nome e suas contas para outras movimentações financeiras de Raul Schmidt Felippe e de seus familiares. Na busca e apreensão realizada em Lisboa, foram apreendidos na residência de Raul Schmidt Felippe dois talões de levantamento de valores do Banco BPI de conta titulada por Leonardo José Muniz de Almeida (no valor total de €23 mil), indicando-se que se trata de conta por onde eram movimentados valores pertencentes, na realidade, a Raul”, remata o MP.
Leonardo Muniz Almeida tinha ligações ao ex-diretor da área de Internacional da Petrobras, Jorge Zelada, na empresa Tv Solar. E_acabou por ser detido para evitar uma fuga para Portugal, de onde, à semelhança de Schmidt, não poderia ser extraditado.