A bracarense Gabriela Correia é, aos 16 anos, a piloto portuguesa mais jovem de sempre. Coroada com o cognome de ‘Princesa da Montanha’, após a sua primeira participação no Campeonato de Portugal de Montanha JC GROUP 2018, já conquistou a a Taça de Melhor Piloto Feminina. Mas continua igual a si própria. «O meu grande sonho é correr na Fórmula 1», confidencia-nos em Braga. Mas, claro, tudo a seu tempo.
Gabriela Correia classificou-se em segundo lugar na sua categoria, de Turismos 3, ficando ainda em sétimo lugar da classificação geral, confirmando assim já a carreira ascendente e metódica, desde a Rampa Internacional da Falperra, no dia 13 de maio de 2018, a data em que completou precisamente 16 anos de idade, logo na terra natal:a cidade de Braga.
E, curiosamente, sendo uma atleta que alcança em cada vez menos tempo, de Rampa para rampa, as subidas da Montanha, o lema de Gabriela, a Gabi, parece ser «devagar se vai ao longe». Gabriela aposta na progressão paulatina e constante, a exemplo do que sucede já no percurso escolar desta futura economista.
Maria Gabriela Ribeiro Correia começou por competir em karting, antes de ter começado no ano passado, em provas de Montanha, sempre ao volante de um Seat Leon MK3, tendo a assistência técnica e pericial da Vettra Motorsport, sedeada em Braga, com a autorização expressa dos pais, José Correia e Lucinda Ribeiro, ambos empresários da construção civil.
Gabriela Correia foi a segunda classificada absoluta na Categoria Rotax Júnior do Troféu Norte de Portugal em 2017, ao fim de três épocas em campeonatos e em troféus de karting, parte dos quais no Circuito de Braga, onde recomeçou a treinar há um mês para repetir a sua participação em provas de Montanha, sempre ao volante do seu Seat Leon TCR MK3.
A pilotar desde os 13 anos em provas de karting, Gabriela Correia estreou-se da melhor forma no no campeonato nacional de Montanha, na mítica Rampa Internacional da Falperra, em Braga, e chamou a atenção do país.
Ayrton Senna como ídolo
Gabriela Correia diz que o seu ídolo é Ayrton Senna. «Pela forma como conduzia, completamente diferente dos outros, conforme tenho visto sempre, apenas através de vídeos. Aliás, tenho mesmo muita pena de nunca o ter podido ver a competir ao vivo».
Acerca do seu Seat Leon TCR MK3, Gabriela só tem boas coisas a dizer. «Conduzir um carro como este é uma experiência marcante, desde ter a caixa de velocidades com patilhas no volante, ao seu poder de aceleração e de travagem, à velocidade em curva, tudo isto é fantástico, dá uma grande adrenalina, que não encontro noutro desporto, daí seguir automobilismo».
Mas a velocidade corre-lhe no sangue. «O meu grande ídolo é o meu pai, que comecei por ver competir nas corridas e também quis experimentar», diz Gabriela, referindo-se a José Correia, bicampeão nacional de GT em automobilismo de montanha e vice-campeão à classificação geral. «O meu pai apoiou-me sempre bastante, nesta minha vontade de pilotar, assim como a minha mãe, a par do meu tio materno, José Ribeiro, que correu em karting e me ensinou muito».
E foi aí que o bichinho pegou. «Comecei pelo karting, a perceber como funciona a condução dos carros, o modo como se fazem as curvas, enfim, todas as manobras para conduzir, o que foi uma experiência fundamental para o que obtive nos Campeonatos Nacionais de Montanha», diz Gabriela.
Gabriela não quer ficar pelas provas de montanha. «À partida prefiro as provas em circuito e, com o tempo, dedicação e muito trabalho, pretendo mais tarde tentar chegar aí, pois gosto mais do envolvimento dentro do circuito».
A Fórmula 1 por horizonte
A um mês da apresentação oficial da JC GROUP Racing Team e a dois meses de subir pela primeira vez a Rampa da Penha, em Guimarães, a única que no ano passado não fez, por não ter ainda 16 anos à data da prova, Gabriela, em jeito de balanço da temporada de 2018, que se sente realizada. «Como ano de estreia, posso dizer que não poderia estar mais satisfeita com os resultados, com os próprios acontecimentos, apesar de um começo um pouco atribulado». Um momento que só a fez lutar com mais força. «Considero que foi esse começo que me deu ainda mais força para lutar para ser cada vez melhor e aprender cada vez mais a cada subida, não esquecendo nunca o divertimento, porque ao longo de todas as provas consegui melhorar os resultados de forma progressiva, começava sempre a primeira subida de cada Rampa com um tempo bastante elevado e terminava com a última subida de prova, com um tempo discutível para a categoria, o que me levou aos primeiros lugares do pódio, foi um excelente ano de estreia», disse Gabriela.
E na hora de colher os louros desdobra-se em agradecimentos. «Tenho que agradecer os ensinamentos ao meu pai e também a sua grande ajuda em termos de patrocínios. Tenho a noção de que sem ele nada disto seria possível. Para além dele, tive outras pessoas que me ensinaram muito e que sem as quais não sei se obtinha estes resultados», disse Gabriela Correia, enaltecendo igualmente a mãe, a irmã, os tios, os avós e os amigos. «Tudo o que obtive não seria possível sem o apoio da minha família, da minha equipa, a Vettra Motorsport, dos meus patrocinadores, como a JC GROUP, a ENI e não só, bem como de toda a gente que de certa forma me é mais próxima e apoia-me, seja qual for a situação», afirma Gabriela, não escondendo nunca que quer voar mais alto. «Ainda não está nada definido no meu percurso automobilístico, mas tenho como meu grande sonho e por objetivo participar em corridas de Fórmula 1, embora isso esteja num futuro mais longínquo, porque por enquanto a Montanha e os Circuitos já são um sonho concretizado», diz Gabriela Correia.
‘Superar-me ainda mais’
Sobre a nova época que se aproxima, Gabriela Correia sabe que não terá uma vida facilitada. «Irei de ter de me superar ainda mais, tentando lutar de novo contra os meus limites, criando novos objetivos e adquirindo novos obstáculos. Tenho noção de que não será um ano fácil, apesar do conhecimento já obtido anteriormente dos traçados e mesmo sobre o carro com que continuarei este ano a competir, o Seat Leon TCR MK3».
O primeiro obstáculo, prevê, virá logo na primeira etapa. «O facto de começar o campeonato com a única prova que não realizei no campeonato anterior, a da Penha, em Guimarães, irá dificultar-me um pouco mais os objetivos para este ano, mas, no entanto, lutarei por resultados notáveis e o melhor que conseguir», diz.
Muito orgulho nas filhas
José Correia, por sua vez, não esconde o orgulho que tem não só em Gabriela, como em Beatriz, que também chegou a dar os primeiros passos no karting. «Tenho duas filhas e logo comecei por colocá-las ambas no karting, só que a Beatriz, que é a mais nova, teve logo um toquezinho, mas a Gabriela continuou e já lá vão três anos», explica. «Ela já tem progredido muito, especialmente neste último ano, mas tenho igualmente orgulho na Beatriz, sei que também irá longe, será só uma questão de tempo».
O também bicampeão nacional de automobilismo recorda que, no ano passado, para Gabriela poder participar na Rampa da Falperra, foi necessária autorização, minha e da minha mulher, Lucinda Ribeiro, junto das autoridades competentes, porque trata-se já de uma competição oficial. Tais provas já não são de cariz amador, mas sim de profissional».
A mãe, Lucinda Ribeiro, é mais parca em palavras, não deixando de admitir que, para si, nem tudo foram rosas. «No início estava receosa, porque a Gabriela é muito nova, mas depois fui-me habituando. Tenho em relação à Gabriela, em todas as provas, a mesma ansiedade que com o José: só fico descansada quando eles terminam a última subida e regressam às boxes».