O Tribunal Supremo da Argentina rejeitou esta quinta-feira o recurso da defesa da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner e confirmou a ordem de prisão preventiva por alegados delitos no memorando assinado entre a Argentina e o Irão sobre o atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). A ordem de prisão preventiva e de congelamento de 50 milhões de pesos ( 1,1 milhões de euros) tinha sido decretada a 6 de dezembro de 2017 pelo juiz federal Claudio Bonadio.
A ex-chefe de Estado não será detida automaticamente porque é senadora e está protegida pela imunidade do cargo, tendo o Senado agora que decidir se suspende essa imunidade para que a ordem de prisão preventiva seja concretizada.
Cristina Fernández, presidente desde 2007 a 2015 e viúva do antigo chefe de Estado Néstor Kirchner, é de novo candidata à presidência nas eleições de outubro, onde tentará vencer o atual presidente de centro-direita, Mauricio Macri. E parece ter possibilidade de o conseguir se os problemas com a justiça não interferirem na corrida. Uma sondagem publicada no princípio deste mês colocava a senadora e o presidente lado a lado em termos de imagem positiva e negativa, com vantagem para Cristina Fernández. Macri surgia com 35,5% de opiniões positivas e 64% de negativas, enquanto a ex-presidente obtinha 36,5% de apoio e 60,6% de rejeição.
Reagindo nas redes sociais à rejeição do seu recurso pelo Tribunal Supremo, Cristina Kirchner escreveu no Twitter: “Só durante as ditaduras se expôs tão claramente um sistema onde os opositores ao regime não têm nem direitos nem garantias constitucionais e os oficialistas toda a impunidade política, judicial e mediática”. A ex-presidente afirma-se perseguida pelos juízes que passam o tempo a convocá-la para interrogatórios.
No mesmo dia em que declarou a prisão preventiva da ex-presidente, o juiz Bonadio também processou Oscar Parrilli, ex-diretor geral da Agência Federal de Inteligência, mas sem prisão preventiva; Héctor Timerman, antigo ministro das Relações Exteriores entretanto falecido; e Carlos Zannini, ex-secretário jurídico da Presidência. A Timerman também foi decretada a prisão preventiva, mas como estava gravemente doente ficou em prisão domiciliária. Cristina Fernández beneficiou da imunidade do cargo para o qual foi eleita quatro dias depois da decisão judicial.
Durante muitos anos o caso do atentado com um carro armadilhado contra a sede da mutualista judaica avançou pouco ou quase nada, mesmo sendo ele um dos maiores atentados na história da Argentina, com 85 mortos e mais de 300 feridos. Até 2018 realizaram-se dois julgamentos de pessoas acusadas de executar e encobrir o atentado, no primeiro todos os acusados foram absolvidos; no segundo, que começou em 2015 e só terminou no passado dia 28, foram condenados por encobrimento e corrupção o ex-juiz do processo, Juan José Galeano, os delegados do Ministério Público Eamom Mullen e José Barbaccia, o antigo chefe dos serviços de inteligência Hugo Anzorreguy, além de outros altos funcionários do governo e de Carlos Telleldín, que entregou o carro usado no atentado.