O Parlamento britânico aprovou uma moção para adiar o Brexit, com 412 deputados a favor e 202 contra. A moção foi proposta pela primeira-ministra britânica, Theresa May, para evitar o cenário de uma saída sem acordo. Mas até vencendo May mostrou fragilidades, com sete dos seus ministros a votar contra a sua moção, tal como 188 deputados do seu partido – mais de metade dos parlamentares conservadores. Ao mesmo tempo, saiu reforçada pela retumbante derrota da moção para um segundo referendo, por 334-85, após o Partido Trabalhista, o maior da oposição, ter ordenado aos seus deputados para se absterem.
Contudo, o adiamento da data limite de saída, até agora marcada para 29 de março, não facilita a vida da primeira-ministra. A extensão ainda terá de ser aprovada unanimemente por todos os Estados-membros da UE.
Apesar dos líderes europeus terem aberto a possibilidade de uma extensão, têm-se mostrado cada vez mais impacientes com as tentativas da primeira-ministra britânica de renegociar um acordo que consideram já estar fechado.
E exigem que o Parlamento clarifique finalmente o cenário que deseja – algo que parece cada vez mais difícil, com os principais partidos profundamente divididos entre fações com objetivos diametralmente opostos. Guy Verhofstadt, coordenador do Parlamento Europeu para o Brexit, escreveu hoje no Twitter: “Sob nenhuma circunstância haverá uma extensão às escuras! A não ser que haja uma clara maioria na Câmara dos Comuns para algo específico, não há razão alguma para que o Conselho Europeu concorde com um adiamento”.
No entanto, de momento é difícil imaginar um projeto que consiga uma maioria clara entre os deputados britânicos. O acordo negociado entre May e a UE já não parece sequer uma possibilidade, após ser estrondosamente rejeitado por duas vezes, esta terça-feira e a 15 de janeiro. Já um segundo referendo é apoiado por boa parte dos deputados trabalhistas, tal como por alguns conservadores europeístas e pelos dissidentes de ambos os partidos, que formaram o Novo Grupo Independente. No entanto, este cenário não conseguirá maioria enquanto não tiver o acordo do líder trabalhista, Jeremy Corbyn.
Contra as resistências que enfrenta de todos os lados, May irá manter-se no cargo e pedir uma extensão do processo para, no máximo, 30 de junho. Esta data é para que o Reino Unido não seja forçado a participar nas eleições europeias, dado que os eurodeputados tomam posse a 2 de julho.
May já avisou que adiar a saída para lá desses três meses levará os britânicos a estarem na União Europeia sem representação democrática, o que tornaria mais provável o cenário de uma saída não acordada do Reino Unido – para o qual o governo já se está a preparar. Preveem-se mais alguns meses de caos e instabilidade política no Reino Unido.