A ministra da Saúde defendeu esta sexta-feira que não pode haver “temas tabus” e clarificou que a proposta de um período de permanência no SNS para os médicos que terminam a especialidade vai ser discutida com sindicatos, escolas e profissionais em formação.
A clarificação surge depois do Sindicato Independente dos Médicos ter admitido uma greve de internos como forma de protesto ao facto de o tema, suscitado pela primeira vez pelo ministro Adalberto Campos Fernandes em setembro de 2017, nunca ter sido formalmente apresentado aos sindicatos. Na altura ficou em cima da mesa a ideia de impor um período de permanência no SNS após a conclusão do internato. Para saírem mais cedo do Serviço Nacional de Saúde, os médicos teriam de devolver ao Estado parte da quantia gasta com a sua formação.
Numa entrevista publicada na edição deste fim-de-semana do jornal i, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos critica as recentes afirmações da ministra da Saúde sobre este tema. “O Estado não paga a formação aos médicos, os médicos trabalham que nem mouros, fazem mais de 40 horas e são remunerados, e mal, pelo seu trabalho”, diz Jorge Roque da Cunha, avisando que “se os internos pararem, o SNS para”. Atualmente há 9 mil internos para 20 mil médicos especialistas no SNS. Jorge Roque da Cunha sublinha que o sistema está no limite e que os internos estão a contar para as escalas como se já fossem especialistas. “Muitas das escalas de anestesia e de medicina interna do país são feitas com médicos do 4º e 5º ano,, do final de especialidade, mas já contando como especialistas”, diz o dirigente do SIM, reconhecendo que esta situação leva a uma maior probabilidade de erro.
Os esclarecimentos da ministra da Saúde sobre esta matéria foram feitos à margem de uma visita ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro e inauguração da Unidade de Saúde Familiar de Vila Real. “Eu acho que vale a pena clarificar que aquilo que estamos empenhados em fazer por estes dias é acabar de cumprir o programa do Governo e essa perspetiva é algo que terá de ser estudado, discutido com os sindicatos, com as escolas, com os profissionais em formação”, disse Marta Temido, citada pela agência Lusa.
“Pese embora eu respeitar todas as formas de protesto, eu também acredito que não pode haver entre nós, na nossa democracia, temas tabus e, portanto, compreendendo que essa seja uma ideia que possa ser encarada com menor simpatia por alguns, neste momento ela não está no programa do Governo e nos objetivos que nós temos para cumprir no curto prazo”, acrescentou a ministra da Saúde. “Discutir ideias talvez não seja o suficiente para justificar uma forma de protesto, discutir ideias discute-se à mesa, apresentando pontos de vista”, disse.