Greve pelo clima foi ‘um dia histórico’

Milhares de jovens faltaram à escola na sexta-feira para exigir ao Governo medidas mais concretas e céleres em relação às alterações climáticas. Catarina Martins (BE) ficou ‘orgulhosa’.

A expectativa para ver a dimensão da adesão era muita, e não terá ficado defraudada. Foram milhares os estudantes por todo o país a aderir à greve mundial agendada para esta sexta-feira, inspirada pelo movimento global #FridaysForFuture, iniciado pela adolescente sueca Greta Thunberg (ver página seguinte). De norte a sul (e também nas ilhas), os jovens mobilizaram-se em massa na reivindicação de ações mais concretas e céleres dos governantes em relação às alterações climáticas.

A fatia maior da população estudantil que decidiu faltar às aulas para se manifestar encontrou-se em Lisboa (mais de dez mil jovens, de acordo com a organização), num movimento que acabou por ter o ponto alto à porta da Assembleia da República. «Não tínhamos noção nenhuma que iríamos conseguir sensibilizar tanta gente. Estamos extasiados com a adesão que estamos a ter e orgulhosos dos estudantes portugueses», referiu Beatriz Cardoso, uma das organizadoras do evento. «Tentamos ao máximo, por exemplo, seguir uma dieta vegetariana ou vegan e utilizar ao máximo os transportes públicos, evitando a produção de emissões», completou a jovem de 17 anos.

Munidos de cartazes, faixas, panos e palavras de ordem – como «Chega de blá blá blá», «A terra está com febre», «Mudem a política, não o clima» ou «Turistas, querem bacalhau? Só temos plástico» -, e sempre de forma pacífica, os jovens pediram ao Governo «que faça da resolução climática a sua prioridade, cumprindo com seriedade o Acordo de Paris e as metas ambientais estabelecidas pela União Europeia», como se pode ler no manifesto publicado no site da organização.

«Estamos a assistir a um dia histórico, há muito tempo que Portugal não via uma manifestação estudantil tão forte. A geração que agora se levanta tem toda a razão, porque o ambiente é a causa das nossas vidas, e esta geração sabe que já foi perdido tempo demais à espera de políticas que protejam a nossa vida», salientou Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda (BE). «Existem 12 anos para termos a neutralidade no carbono e para pararmos o que podem ser alterações que vão impossibilitar a nossa vida com o aumento dos fenómenos climáticos extremos», acrescentou, considerando que Portugal «já está a viver uma crise ambiental»: «Vê-se nos incêndios, na erosão da costa, nas tempestades.»

Também Assunção Cristas marcou presença nas manifestações em Lisboa, e o próprio Presidente da República não ficou indiferente ao acontecimento. «Esta greve climática estudantil mundial é uma ideia muito mobilizadora para chamar a atenção para a importância das alterações climáticas. Elas existem, são globais, não estão contidas pelas fronteiras dos estados, e exigem uma resposta global e não Estado a Estado», ressalvou Marcelo Rebelo de Sousa, à margem de uma conferência onde marcou presença no Porto. «É muito boa ideia que sejam os jovens a pensar o futuro numa matéria que é uma matéria de futuro e que exige uma resposta europeia mas, mais do que isso, mundial. Daí a importância do multilateralismo, o papel das Nações Unidas, de organizações que chamam a atenção dos jovens», completou.

Em declarações reproduzidas pelo Público, João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética, referiu-se a esta como «a mais justa das causas pelas quais os nossos estudantes se podem manifestar» e garantiu que Portugal «vai fazer o seu trabalho».