Aquaparque. Da tragédia ao renascer

Depois da tragédia que chocou o país, durante mais de 20 anos o Aquaparque esteve votado ao abandono. No ano passado, foi anunciado que o espaço daria lugar a um parque infantil com abertura prevista para o primeiro trimestre de 2019. Uma parte desse parque está já em funcionamento

O relógio marca 14h30. O sol brilha alto e sente-se uma brisa fresca no ar. Junto às imediações do antigo Aquaparque, no Restelo, Lisboa, só se ouve o chilrear dos pássaros e ao longe, num som mais abafado, ouve-se a azáfama do trânsito.

Quem se aproxima da vedação do antigo parque aquático não desconfia que aquele terreno está a ser alvo de obras para reabrir como parque infantil. Lá dentro não se ouvem nem se veem máquinas ou pessoas e o único movimento que existe é o das grandes ervas verdes que abanam por causa da pequena brisa que se faz sentir. Só as paredes dos edifícios – que se encontram do outro lado da vedação e que antes tinham um aspeto, sujo e degradado – podem anunciar alguma novidade. Agora estão pintadas de branco, saltando à vista de quem lá passa e transmitindo a ideia de que os edifícios são novos ou foram restaurados.

Dando a volta, é nas traseiras que se encontra a única placa que denuncia os trabalhos. «Proibida a entrada a pessoas estranhas à obra». Descendo mais um pouco a rua, no meio de um jardim amplo repleto de árvores, avista-se um pequeno parque infantil. Está como novo, a madeira tem um aspeto cuidado, a cor dos escorregas não está ainda desgastada pelo sol e o plástico do baloiço reluz com os raios que nele incidem. Perto das atrações para as crianças há cerca de cinco bancos de jardim.

A ideia, segundo anunciou o ano passado o vereador do Ambiente e da Estrutura Verde da Câmara Municipal de Lisboa, José Sá Fernandes, era abrir o novo parque infantil no primeiro trimestre de 2019. A aproximar-se o final do prazo estimado, o b,i. tentou contactar a Câmara Municipal de Lisboa para perceber se já existem previsões de quando será feita a inauguração do novo parque infantil. Fonte do município, explica que o parque se encontra «em fase final de construção» e que se prevê que possa abrir até ao verão. A Câmara adianta também que será criado um café «que dinamizará o espaço». Assim, a ideia do vereador, que revelou à Lusa que queria inaugurar o complexo «no primeiro dia da primavera de 2019» – que se assinala a dia 20 deste mês – parece estar um pouco longe da realidade. 


Mafalda Gomes

A autarquia confirma ainda que o parque infantil ao ar livre já se encontra montado e está em funcionamento desde 2018: «Existe um parque infantil exterior integrado na natureza, em funcionamento desde 2018, na área que foi renaturalizada, e que anteriormente estava afeta a pavimentos e piscinas».

O ano passado, a autarquia revelou, através do seu site oficial, que as obras nos edifícios de apoio arrancaram depois de ter sido aberta «toda a área exterior após trabalhos de renaturalização». O comunicado da Câmara explicava ainda que as antigas piscinas deram lugar a «plantações e sementeiras de caráter florestal, garantiram-se clareiras de recreio, a recuperação de percursos, a instalação de um parque juvenil naturalizado e a abolição de obstáculos incluindo a retirada de toda a vedação».

Contactada pelo b,i., fonte da polícia municipal que prefere não ser identificada revela que a zona da obra tem sido patrulhada desde o início do mês de março. A zona é vigiada 24 horas por dia, durante os sete dias da semana. Qual é o objetivo? Evitar que o complexo seja vandalizado.

Patrulhas da Guarda Nacional Republicana (GNR) passam com regularidade no local para evitar estragos nas obras em curso.

Mais de 20 anos ao abandono

O que se passou ali há mais de 25 anos ficou para sempre gravado na memória dos portugueses. Encerrado em 1993 depois da morte de duas crianças (ver páginas 22 e 23), desde então o parque aquático do Alto do Restelo ficou ao abandono. O destino a dar àquele terreno foi tema de discussão e chegou a ser feito um acordo com uma empresa privada para a criação de um parque temático. Mas a ideia nunca saiu do papel.

Decorreram mais de 20 anos de incúria e abandono, até que a Câmara Municipal de Lisboa ditou o novo rumo para o antigo Aquaparque: um parque infantil para todas as idades.  De acordo com a autarquia, os edifícios darão lugar a «vários espaços destinados a diferentes camadas etárias».

O primeiro passo já foi dado com o parque infantil ao ar livre. No total, serão criadas quatro áreas distintas, cada uma delas destinada a crianças de diferentes idades. O projeto prevê ainda a criação de instalações sanitárias e um fraldário.


Mafalda Gomes

«A ativação deste edificado com este uso será uma enorme mais-valia para o usufruto do Parque Florestal de Monsanto, sobretudo para esta área sudoeste tantos anos desaproveitado, servindo de polo de atração para todo o ano, uma vez que a parte coberta torna-o atrativo em quaisquer condições climatéricas», conclui a autarquia. O custo global da obra «ascende a 1,2  milhão de euros». Depois de inaugurado, o espaço estará aberto todos os dias, mas os portões serão fechados à noite. Mais vale prevenir…