A mobilidade urbana é um tema quente. Muito se tem discutido sobre o impacto das novas modalidades de transportes, desde a ‘velha’ questão da UBER contra os taxistas às trotinetes elétricas que invadem passeios, ciclovias e faixas de rodagem nos centros urbanos. Não acredito que seja possível parar esta transformação, quiçá revolução, da forma como nos movimentamos na cidade. Mas, para consolidar a afirmação destas modalidades alternativas de mobilidade, são necessárias algumas mudanças e as marcas têm aqui uma oportunidade para se aproximarem das pessoas, contribuírem para a melhoria da sua qualidade de vida, para se tornarem mais relevantes.
Sobre as vantagens para a mobilidade os benefícios destes serviços são evidentes: soluções partilhadas, que implicam menos transportes na cidade; soluções sustentáveis, logo geram menos poluição; soluções confortáveis, logo com muitos adeptos. E até relativamente económicas. A fórmula é vencedora, mas ainda pode correr mal, faltam regras e infraestruturas, por exemplo. Mas a revolução está em curso e os marcas podem assumir um papel ativo e ajudar a resolver alguns dos problemas. São muitos os benefícios que podem retirar destas iniciativas.
O mais óbvio talvez seja a utilização destes equipamentos como soluções de publicidade tradicional. Sobretudo enquanto ainda estamos na fase em que viramos a cabeça para seguir o rasto de cada trotinete elétrica que passa, podemos assumir que existem algumas centenas de formatos publicitários de exterior a circular na cidade. Ainda por cima com grande incidência nos principais eixos, onde é mais complicado – mais concorrência e menos oportunidades – chamar a atenção das pessoas. Mas se já têm a nossa atenção, se calhar estamos apenas à distância de uma boa ideia para concretizar esta realidade.
Outro ponto importante é que todas estas soluções funcionam exclusivamente no universo digital, sobretudo em mobile. Não devemos esperar que as pessoas instalem uma aplicação para cada serviço, a revolução ainda está a começar e já se contam uma dezena de operadores das várias modalidades. Se calhar nem todos vão sobreviver, mas certamente surgirão novos. E, com a necessidade que as marcas têm de usar as tecnologias móveis para construírem as suas relações com os consumidores, as aplicações podem ser um formato de grande valor.
Por último, as marcas podem fazer parte da solução para alguns dos vários, muitos constrangimentos, que as bicicletas e trotinetes estão a criar. Assumir um papel de parceria, com os utilizadores, os fornecedores dos serviços e com as autarquias, no sentido de tornar a utilização destes serviços mais segura e responsável, irá permitir às marcas reforçarem o seu contributo para a qualidade de vida das pessoas, algo que os consumidores exigem cada vez mais das marcas.
As parcerias, não só a media partilhada, mas todo o conjunto de relações comerciais que resultem numa mais valia para as pessoas são amplamente valorizadas. E credíveis se resultarem no reforço da promessa das várias marcas envolvidas. Na área da mobilidade já começamos a assistir a alguns destes exemplos, sendo um dos mais notáveis a recente relação da BMW e Mini com a Mercedes-Benz e Smart (grupo Daimler) na construção do serviço Share Now. Num futuro próximo esta joint venture irá integrar a atual Drive Now, bem como um conjunto de outras marcas do mesmo universo, Reach Now, aluguer de viaturas, Charge Now, carregamentos elétricos, Park Now, pagamento de parquímetros e Free Now, transporte individual de passageiros. Por vezes não é fácil estabelecer parcerias, mas se até a BMW e a Mercedes se conseguiram entender…
No contexto de saturação do espaço publicitário e na busca incessante das marcas em criarem argumentos que permitam criar diferenciação e valor, os serviços de mobilidade podem ser uma grande mais valia. E já circulam muitos por aí.
*Responsável Planeamento Estratégico do Grupo Havas Media