As ruas londrinas foram hoje tomadas por mais de um milhão de pessoas, segundo os organizadores, que exigem um segundo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. É o mais recente sinal de que o país se encontra profundamente dividido sobre a permanência no projeto europeu.
A manifestação foi convocada sob o lema "Deixem o Povo Decidir" (Put it to the people, em inglês) e não é a primeira vez que uma deste género é organizada. Em outubro de 2018, não menos de 700 mil pessoas marcharam pelas ruas da capital britânica com a mesma reivindicação. Desse momento para cá, o descontentamento em torno do Brexit e do governo britânico aumentaram significativamente.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, não tem tido vida fácil, ora estando encurralada entre um parlamento que rejeita o acordo e uma União Europeia que se recusa a reabrir as negociações. May viu-se obrigada esta semana a pedir a extensão do prazo de saída da UE, inicialmente marcado para 29 de março, e queria que fosse até 30 de julho, mas os líderes europeus recusaram-no parcialmente em sede de Conselho Europeu.
Londres tem agora até 22 de maio para abandonar o projeto europeu, mas, para isso, os deputados terão de votar a favor de um acordo que já rejeitaram por duas vezes. Caso não o façam, então o Reino Unido tem até 12 de abril para comunicar a Bruxelas qual o caminho que quer seguir: se continua a pertencer à UE ou se a abandona num cenário sem acordo, situação que seria catastrófica para a economia britânica.
Além disso, May confronta-se ainda com outra dificuldade: o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, já disse que a líder conservadora não pode submeter o acordo a votação dos deputados se for essencialmente o mesmo. Neste sentido, Bercow só o aceitará se o acordo for fundamentalmente alterado, o que Bruxelas tem consecutivamente recusado e voltou a fazê-lo na reunião desta quinta-feira do Conselho Europeu.
"A primeira-ministra e o seu governo provaram serem completamente incapazes de cumprir com o resultado do referendo de 2016, daí a razão disto [o Brexit] ter de voltar ao povo", disse a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, perante os manifestantes, no centro de Londres.
Entre os manifestantes foram muitos os cartazes a criticarem May e a pedirem um segundo referendo e até mesmo a permanência na UE. "O melhor acordo é não haver Brexit" e "Exigimos o voto do povo", podia-se ler em alguns cartazes.
"Seria diferente se isto fosse um processo bem gerido e o governo estivesse a tomar decisões sensatas. Mas é o caos completo", afirmou o manifestante Gareth Rae, de 59 anos, à Reuters, referindo que o "país vai ficar dividido independentemente do que acontecer e é pior se ficar dividido com base numa mentira".
Dias antes dos manifestantes saírem à rua, o website do parlamento britânico viu-se subitamente entupido quando uma petição online a pedir a renúncia da saída da UE deu entrada. Em poucos dias ultrapassou os 3,5 milhões de subscritores, entrando na história da política britânica como a petição com mais assinaturas de sempre.