Tubarões, baleias e golfinhos. Estes são alguns dos animais marinhos que vivem em águas portuguesas. Contudo, nos últimos dias estes animais têm chamado mais à atenção, por estarem a ser vistos com mais frequência junto à costa portuguesa.
Uma das notícias mais recentes dava conta de que junto à ilha do Farol, em Faro, tinha sido avistado um tubarão-frade com cerca de sete metros – a segunda maior espécie de tubarão, a seguir ao tubarão-baleia – durante um passeio de barco. No mesmo dia, foi visto outro animal marinho em águas algarvias: uma baleia-anã junto ao largo do farol de Alfanzinha, perto do Carvoeiro, em Lagoa.
Contactado pelo SOL, Carlos Silva, biólogo da Quercus, explicou que apesar de não ser habitual vermos este tipo de animais, eles têm uma presença bastante regular nos mares portugueses. «Apesar de não ser habitual vermos este tipo de animais, acaba por ser natural, porque a presença deles é natural nos nossos mares. A presença é natural e é regular». O biólogo explicou ainda que os tubarões que se encontram em águas portuguesas nadam em profundidade, sendo essa a razão pela qual não são vistos tantas vezes. «Acabamos por não ter um contacto tão direto com eles», afirmou.
De acordo com Carlos Silva, o facto de se verem estes animais mais perto da costa poderá justificar-se com o aumento da temperatura da água do mar devido às alterações climáticas. «As temperaturas nos oceanos vão ter tendência a aumentar de forma pouco controlada e isso também vai fazer com que os hábitos de vida destes animais se alterem», referiu.
Relativamente ao caso mais recente no Algarve, o tubarão-frade é um animal filtrador. Ou seja, alimenta-se principalmente de plâncton e outros organismos pequenos. «Com o aumento da temperatura do mar, esse plâncton também se vai desenvolver à superfície das nossas águas», explicou, acrescentando que isso vai fazer com que esta espécie apareça mais à tona. E apesar de estes animais estarem mais perto da população, o especialista afastou a hipótese de que isto possa ser significado de ameaça. Estão na superfície, «mas estão a alimentar-se. Não constituem nenhum tipo de perigo». O animal pode ser muito grande – podendo chegar aos 12 metros de comprimento –, mas «acaba por ser completamente inofensivo», completa.
Élio Vicente, biólogo marinho, não partilha totalmente a visão de Carlos Silva. Ao SOL, o biólogo garante que o aparecimento destes animais mais à superfície nada tem a ver com a temperatura da água. Estes animais são «oportunistas de alimentação», ou seja, «vão atrás do alimento», que segundo o especialista se encontra mais «à superfície de água», daí poderem ser vistos com mais facilidade. «Não tem a ver com temperaturas de água», completou.
O biólogo marinho explicou ainda que o facto de às vezes as pessoas não conseguirem ver estes animais, não quer dizer que eles não estejam lá. «Eles são muito comuns na nossa costa», afirmou, acrescentando que é normal ver estes animais no verão porque é quando as pessoas vão à praia. «Só vamos para dentro do mar quando ele está bom e calmo. É aí que conseguimos ver alguma coisa e que reparamos que eles estão lá, mas estes animais passam por cá todos os dias», frisou.
Quanto à ameaça para os humanos, Élio Vicente também corroborou com a tese de Carlos Silva. Ao SOL afirmou que estes animais são inofensivos e pacíficos e que como não estão habituados a lidar com pessoas «se assustam com alguma facilidade».
Já as baleias é mais normal vê-las à superfície. Como são mamíferos precisam de vir à tona para respirar «senão morrem asfixiadas», completou.
Águas portuguesas ricas em espécies marinhas
Em Portugal continental e ilhas existem cerca de 24 espécies de baleias e golfinhos. Segundo Élio Vicente, somos um dos países do mundo com «maior diversidade de cetáceos» nas nossas águas. Quanto a tubarões, a estimativa é mais complicada. «A questão é o que é que são os tubarões?», questiona, adiantando que por exemplo o cação que os portugueses costumam incluir na sua alimentação é um tubarão.
As águas portuguesas têm várias espécies de tubarões, disse ao SOL Élio Vicente, voltando a reforçar que estes não representam ameaças para os humanos, uma vez que «não existem mamíferos marinhos como focas ou leões marinhos» na nossa costa – que geralmente servem de alimento a algumas espécies de tubarões.
O biólogo marinho disse ainda que tanto as baleias como os golfinhos estão distribuídas um pouco por toda a costa portuguesa, mas que normalmente é mais fácil de serem vistos na costa algarvia porque o mar é mais calmo, quando comparado como o mar na zona Norte do país.
Questionado sobre os animais que dão à costa mortos, Élio Vicente explicou que os que nadam nos mares do Norte estão sujeitos a mais tempestades, temperaturas mais frias e ondulação mais forte, condições tão adversas que por vezes podem mesmo ser fatais. Também há «um maior esforço de pesca» e por vezes podem morrer por ficarem presos nas redes de pesca, acrescentou.
No entanto, também se tem verificado um aumento das mortes devido à poluição no mar. Segundo o biólogo esse fenómeno «vai continuar a aumentar porque há cada vez mais poluição no devido ao plástico». «Quanto mais poluído o habitat, maior é a probabilidade de um animal interagir com essa fonte de poluição», acrescentou.
Carlos Silva também considera que a poluição é uma das maiores ameaças para estas espécies. «Já há algum tempo que a maior ameaça somos claramente nós», disse, acrescentando que a pesca descontrolada também contribui para o aparecimento de cadáveres nas praias.
«Não havendo uma regulamentação específica para a pesca vamos acabar por ter muitos mais casos de animais que aparecem na costa mortos, muitas vezes com partes do seu corpo retiradas – como a barbatana caudal», rematou.