A investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller concluiu que ninguém da campanha presidencial de Donald Trump de 2016 “conspirou ou se coordenou com o Governo russo”. Ainda assim, a investigação não chegou a nenhuma conclusão sobre se o Presidente dos EUA tentou ou não obstruir a justiça ao pedir ao então diretor do FBI, James Comey, que não investigasse as ligações entre o seu assessor Michael Flynn e o Governo russo, acabando mesmo por despedir o diretor sob a justificação de incompetência. As conclusões da investigação foram divulgadas numa carta do procurador-geral norte-americano, William Barr, aos presidentes de várias comissões da Câmara dos Representantes e do Senado.
“Enquanto o relatório não conclui que o Presidente cometeu um crime, também não o exonera”, disse Barr ao citar linhas escritas por Mueller no relatório final da investigação. Sem conclusões, Mueller deixou a responsabilidade de se avançar com acusações contra o chefe de Estado ao procurador-geral e ao seu vice, Rod Rosenstein, ambos nomeados por Trump. Ambos partilharam da opinião de não se avançar com acusações que poderiam levar à destituição do cargo.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não perdeu tempo a vir a terreiro dizer que tudo não passou de uma “caça às bruxas” dos democratas e que a carta não é menos que a constatação de uma “vergonha pela qual o país passou” e que lhe garante uma inocência total. “Foi um golpe ilegal que fracassou”, disse Trump.
A especulação sobre um possível conluio entre a campanha de Trump e os russos era há muito uma pedra no sapato do chefe de Estado, fragilizando a sua legitimidade democrática. Agora espera-se que Trump passe ao ataque, usando este documento como arma de arremesso contra os democratas. “Agora, as grilhetas estão quebradas. Ele está capaz de demonizar os média e os democratas por perpetuarem o que diz ser uma caça às bruxas. E será capaz de usar a sua inocência como alimento para a sua campanha”, disse o historiador presidencial Douglas Brinkley à Reuters. No entanto, acrescenta o especialista, o chefe de Estado continuará a ter dificuldades em controlar o que diz publicamente, dando munições aos seus adversários e fragilizando a sua mais que provável recandidatura nas presidenciais de 2020.
Por sua vez, a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, classificou o documento como “insuficiente” e apelou ao procurador-geral para que divulgue o relatório na sua totalidade, para que as comissões da câmara possam analisá-lo e continuar com o seu “trabalho independente”. “Estamos a insistir para que qualquer relatório de qualquer comissão seja desclassificado, a fim de que os seus membros possam falar abertamente sobre todos os aspetos do relatório e não fiquem confinados ao que o Departamento de Justiça escolhe divulgar publicamente”, disse Pelosi.
Barr já deixou clara a sua disponibilidade para divulgar algumas partes do relatório por causa do “interesse público neste assunto”, garantindo consultar Mueller para saber quais as partes que podem ser tornadas públicas.
Do outro lado do Atlântico, Moscovo mostrou-se de imediato disponível para melhorar as relações diplomáticas com Washington e congratulou-se com as conclusões de Mueller, sublinhando que foram o que sempre afirmou: não houve qualquer conluio ou interferência nas eleições presidenciais.