O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, informou, através do seu porta-voz, o general Otávio Rêgo Barros, que restabeleceu as comemorações militares do golpe de 31 de março de 1964, data em que o presidente eleito João Goulart foi deposto pelos militares e que deu início a uma ditadura que só terminou em 1985.
De acordo com o diretor para as Américas da organização de defesa dos direitos humanos, José Miguel Vivanco, “Bolsonaro critica com razão os governos de Cuba e Venezuela por violarem os direitos básicos dos seus povos, mas, ao mesmo tempo, ele celebra uma ditadura militar no Brasil que causou um sofrimento indescritível a dezenas de milhares de brasileiros".
"É difícil imaginar um exemplo mais claro de um padrão duplo", acrescentou ainda.
Segundo os dados da Comissão de Verdade, citados pela Human Rights Watch (HRW), voltar a comemorar esta data significa celebrar o facto de 4.841 representantes eleitos pelos brasileiros terem sido destituídos dos seus cargos políticos naquela altura. Mais ainda, a organização também lembrou que durante aquele período, mais de vinte mil pessoas foram torturadas e pelo menos 434 foram assassinadas ou desapareceram.
A HRW lembrou ainda que nunca foram apontados responsáveis pelos crimes cometidos naquela altura, devido a uma lei de amnistia irrestrita e lembrou o caso de Vladimir Herzog, um jornalista brutalmente assassinado em 1975. O filho, Ivo Herzog, afirmou estar indignado com a reinstauração das comemorações desta data. "Comemorar o golpe é ofensivo. É uma tortura para as famílias dos mortos", disse.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, também criticou as celebrações desta data. "Num cenário de crise económica, com quase 13 milhões de desempregados, é preciso olhar para a frente e tratar do que importa: o futuro do povo brasileiro. Comemorar a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa é querer dirigir olhando para o retrovisor, mirando uma estrada tenebrosa. Não podemos dividir ainda mais uma nação já fraturada: a quem pode interessar celebrar um regime que mutilou pessoas, desapareceu com seus inimigos, separou famílias, torturou tantos brasileiros e brasileiras, inclusive mulheres grávidas? Não podemos permitir que os ódios do passado envenenem o presente, destruindo o futuro", afirmou.
Jair Bolsonaro já disse publicamente que a ditadura cometeu um erro ao torturar pessoas que deveriam ter sido logo mortas e durante os seus quase 30 anos como congressista sempre defendeu o histórico do regime militar. Já em 2009, chegou a pendurar na prota do seu gabinete no Congresso um cartaz onde podia ler-se "Quem procura ossos é um cachorro", numa alusão à busca dos restos mortais de supostos membros de um grupo de guerrilheiros do Araguaia, que terá desaparecido após uma emboscada preparada pelo Exército brasileiro.