Afirma Ricardo Reis: «Para ser grande, sê inteiro. Nada / Teu exagera ou exclui. // Sê todo em cada coisa./ Põe quanto és / no mínimo que fazes. // Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive.» Só empenhando verdadeiramente todo o nosso ser, tudo quanto somos, no mínimo que fazemos é que poderemos efetivamente ser nós próprios. Não é por uma tarefa ser mais pequena ou, aos nossos olhos, de somenos importância que poderemos desinvestir, porque em todas as tarefas que realizamos somos nós próprios que ali estamos, somos nós próprios que nos empenhamos, que nos comprometemos. Não podemos ser menos nós numas situações do que em outras. Não podemos ser nós próprios só em algumas situações, senão o que somos nas restantes? Se pensamos não ser assim, mas, na realidade, o somos, então que somos nós? Meras imagens do que gostaríamos de ser? Estas dúvidas, que nos angustiam, ecoam as palavras de Fernando Pessoa: «Não sei quem sou, que alma tenho», ou de Florbela Espanca: «Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem / Quem sou?».
O apelo a que hoje demos mais incentiva-nos a sermos melhores, a cada novo dia, sempre, todos os dias. Ou, nas palavras do Papa Francisco: «Deve-se aprender todos os dias a fazer algo, a ser melhores do que o dia anterior.»
E a frase, gravada no chão, apela a que demos mais, o que também pode ser interpretado como dar mais aos outros, dar mais bens materiais e partilhar mais sentimentos. Dar mais aos outros pode não implicar apenas dinheiro. Implica, sobretudo, dar mais tempo, mais atenção, mais afeto. Só dando mais de nós aos outros poderemos ser verdadeiros connosco e tornar os outros mais felizes. Porque só dando mais ficamos, também nós, a ganhar mais, mesmo sabendo, como diz Lobo Antunes, citando Conrad, que «Tudo o que a vida nos pode dar é um certo conhecimento dela que chega sempre tarde demais», muitas vezes quando já não temos mais lágrimas para chorar.