A nova coleção unissexo da Zippy tem dado que falar. Várias mães ficaram indignadas com a marca, acusando-a de promover uma ideologia de género, enquanto outras ficaram indignadas com estas mães. As roupas são giras e como em todas as coleções, se as crianças gostarem, ótimo. Por mim, desde que não acabem com os vestidos lindos de menina e as roupas giras de meninos, não tenho nada contra. Parece-me no entanto que toda esta indignação e alarido não estão tão relacionados com a coleção em si, mas com uma espécie de saturação de uma série de pressões com que a sociedade se tem deparado.
Dos livros de meninas e meninos ao questionário polémico sobre opções sexuais dado a preencher numa escola, passando pela palestra que deu que falar nas últimas semanas, as crianças e jovens têm estado a ser uma espécie de cobaias de uma tentativa de mudança de uma sociedade mais tradicional.
Quero deixar claro que sou totalmente contra a discriminação e os preconceitos. Acho muito duro o processo por que passam jovens que não se identificam com a maioria dos pares. Considero essencial que a sociedade se torne mais aberta e menos punitiva e discriminadora com quem sente como diferente, seja no que diz respeito à sexualidade, seja em termos comportamentais, cognitivos ou relacionais.
Sinto que se tem feito muito nesse sentido, o que tem aspetos positivos. A questão é como tem sido feito. Quase a eito e sem muito tato, geralmente por pessoas com pouca sensibilidade e formação. À semelhança do que acontece com o ensino tradicional, que muitas vezes não acompanha as capacidades e maturidade das crianças, estes assuntos têm sido apresentados e tratados de forma tendenciosa e prematura que pode gerar novos conflitos e confusões.
Não me parece nada sensato – aliás, parece-me bastante descabido até – falar de identidade ou orientação sexual a crianças no início do ensino básico. Nesta idade rapazes e raparigas gostam de brincar com os pares, seja de que forma for e ainda que comecem a ter namorados e namoradas é algo que fazem de forma ingénua. Esmiuçar conceitos destes com crianças que não só não têm maturidade como não estão minimamente interessadas no assunto, até porque têm coisas bem mais interessantes para descobrir, só vai gerar maior confusão nas suas cabeças. Uma coisa é um adolescente sentir apoio e encontrar resposta às suas preocupações, outra totalmente diferente é levantar questões que não se colocam sequer à maioria das crianças nesta etapa e que poderão alterar o seu natural desenvolvimento. Que uso podem dar as crianças a esta informação tão precocemente? O que sentirão por exemplo as meninas na idade em que andam sempre coladas às amigas? No limite, o excesso de informação em idade imprópria pode levar a comportamentos abomináveis como o que ocorreu esta semana numa escola em Gondomar quando um menino de nove anos foi abusado pelos colegas da mesma idade, em vez de estarem todos a jogar alegremente à bola.
Parece-me que aquela marca de roupa apanhou uma bala perdida do desconforto dos pais em relação a outras pressões. Se cada um pode escolher onde comprar roupa, não pode escolher a informação que é dada aos seus filhos. Para mim não faz sentido ter um filho de seis anos que chega a casa intrigado com questões acerca de orientação sexual. Não precipitemos, não condicionemos, nem confundamos a vida das nossas crianças com as nossas próprias preocupações, fragilidades e conflitos. Deixemo-los livres daquilo que só aos mais velhos diz respeito, para que possam brincar sem preconceitos nem preocupações, para que não formem ideias erradas porque ainda não têm maturidade para entender o que lhes querem ensinar. Deixem-nas viver livremente aqueles anos de ouro, que podem ser os mais puros, despreocupados e livres de que terão memória. Com ou sem roupas unissexo.