Está em curso uma reorganização das alianças estratégicas e militares na Europa. Os Estados Unidos suspenderam a entrega de equipamento para os caças furtivos F-35 à Turquia, em protesto contra a compra de um sistema de defesa balístico com mísseis S-400 russos. Os EUA temem que os testes militares de Ancara permitam ao radar dos S-400 detetar os aviões F-35. No rescaldo deste afastamento, Erdogan vai reunir-se com o Presidente russo, Vladimir Putin, no dia 8 de abril. Este encontro promete reforçar as relações entre Moscovo e Ancara, afastando a Turquia dos seus aliados tradicionais e dificultando a agenda da cimeira da NATO, marcada para esta semana.
Enquanto isso, a Alemanha aproxima-se da abordagem diplomática norte-americana. Ainda esta terça-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse acreditar que a Rússia violou o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio – que proíbe a instalação na Europa de mísseis de alcance entre 500 e 5500 quilómetros, que não deixam tempo de reação a falsos alarmes, dado demorarem meros minutos a atingir os seus alvos.
Merkel alinha assim com as alegações norte-americanas, negadas por Moscovo, e que levaram à retirada dos EUA do tratado. É uma viragem na posição da chanceler, que tinha tentado manter o tratado em vigor, chegando a apelar à China para que se juntasse às negociações.
Merkel tinha anteriormente criticado a política externa norte-americana e a saída de tratados nucleares internacionais, garantindo que “o multilateralismo pode ser complicado, mas é melhor que ficar sozinho em casa”. A Aliança Atlântica parecia estar a fraturar-se perante as diferentes abordagens pretendidas e a pressão do Presidente dos EUA, Donald Trump, que exigiu que os europeus cumprissem o seu compromisso de gastar pelo menos 2% do seu PIB no orçamento da defesa.
No entanto, as declarações de Merkel, juntamente com a divulgação do relatório anual da NATO de 2018 – que revelou o maior gasto militar europeu nos últimos cinco anos, uma média de 1,5% do PIB -, mostraram que os países europeus membros da NATO estão a cerrar fileiras contra uma potencial ameaça russa. Um indicador claro é que os maiores aumentos de gastos se deram entre os países mais próximos da Rússia, como a Polónia ou os países bálticos. Esta tendência já vem desde a anexação da Crimeia, em 2014, e pode acentuar-se com a aproximação de Ancara a Moscovo.