Há duas semanas escrevi que nem Novak Djokovic, nem Rafael Nadal ou Roger Federer são inocentes na luta de bastidores em que todos procuram ter influência.
Hoje concluo a trilogia de artigos sobre o tema, numa altura em que Djokovic reconheceu que as eliminações precoces em Indian Wells e Miami deveram-se à dificuldade em concentrar-se no court, quando se debate com a gestão do cargo de presidente do Conselho de Jogadores do ATP Tour.
Anteriormente detive-me mais em Djokovic e na força que teve na não renovação do mandato do presidente do ATP Tour, Chris Kermode.
O sérvio não apreciava a empatia de Kermode com Federer e Nadal, acusava-o de privilegiar os interesses dos torneios e pretende impedir a fusão entre a nova Taça Davis e a futura ATP Cup. Djoko apoia a ATP Cup.
Nadal, pelo contrário, prefere a Taça Davis, enquanto Federer é um dos proprietários da Laver Cup, um perigo para qualquer competição por equipas, dada a ambição do suíço em transformá-la na Ryder Cup do ténis.
Estes campeões têm legítimos interesses na modalidade para além das suas carreiras de tenistas.
Federer foi o anterior presidente do Conselho dos Jogadores mas sente a sua influência a diminuir. Por isso declarou que deseja envolver-se mais (de novo) na política do ténis.
Nadal foi vice-presidente de Federer mas depois afastou-se por divergências várias, entre as quais, querer mais predominância da terra batida no circuito, desejar um ranking mundial que conte dois anos em vez de um (como no golfe) e uma distribuição de prémios nos torneios que valorize mais as primeiras rondas, ou seja, os jogadores de menores recursos.
A grande diferença é que Federer e Nadal sabiam dialogar (como fizeram há duas semanas), sobretudo com os representantes dos torneios no Conselho de Administração do ATP Tour. Eles alcançavam consensos.
Já a presidência de Djokovic e a vice-presidência de Kevin Anderson tem sido marcada pela intransigência e pela exigência de cada vez mais dinheiro para os jogadores. Sejamos sinceros, esta liderança dos jogadores só pensa em dinheiro.
Mais de metade dos torneios ATP 250 tem prejuízos. Lucros chorudos só mesmo os Majors e os Masters 1000. «Até há ATP 500 com dificuldades», garantiu-me João Zilhão, diretor do Millennium Estoril Open.
Felizmente os proprietários dos torneios estão agora a unir-se mais e há quem acredite que a saída de Kermode poderá ainda ser evitada.
Com ou sem Kermode, o importante é que os atletas tenham bom senso ou o circuito mundial poderá alterar-se radicalmente e prejudicar os mais fracos – jogadores e torneios.