Jacinda Ardern é um nome que se tem destacado no panorama internacional nos últimos tempos. A líder do Partido Trabalhista neozelandês chegou a chefe do Governo com apenas 37 anos, depois de conseguir um delicado acordo com o Nova Zelândia Primeiro e os Verdes, que lhe permitiu governar.
Reconhecida por ser contra qualquer tipo de discriminação, discursou no parque Hayden a propósito do ataque às duas mesquitas em Christchurch, a 15 de março, quando um homem de 28 anos matou 50 pessoas. Com um manto típico dos maori – o maior povo indígena da Nova Zelândia – pelos ombros, afirmou que «a violência e o extremismo em todas as suas formas não são bem-vindos [na Nova Zelândia]».
Ardern colocou-se desde o primeiro momento ao lado da comunidade muçulmana do país. «Eles são nós», disse. Sobre o atacante, não hesitou em afirmar que «é um terrorista, um criminoso, extremista». No seu discurso no Parlamento após o atentado, a líder do Governo foi assertiva: «quando eu falar [ele] não terá nome. E, imploro-vos, falem dos nomes dos que perderam a vida em vez do homem que as levou. Ele pode ter procurado notoriedade, mas na Nova Zelândia não lhe vamos dar nada. Nem o nome».
Na passada terça-feira, conseguiu aprovar a primeira de três votações no que respeita a restrições sobre o porte de armas, como aquelas que foram usadas pelo atirador. O projeto de lei, que deverá ser aprovado na próxima semana, teve o apoio de liberais e conservadores, com apenas um único legislador dos 120 que têm assento no Parlamento a votar contra.
A forma ternurenta como abraçou membros da comunidade muçulmana quando discursou após o ataque, apesar de se afirmar agnóstica, bem como reação rápida que teve em relação à alteração da lei do acesso à utilização e porte de armas, levou o New York Times a dizer que «a América merece um líder tão bom quanto Jacinda Ardern». A mesma publicação refere ainda que «na Nova Zelândia bastou um ataque para acordar o Governo», enquanto «nos Estados Unidos, uma série de ataques não foi suficiente». Um claro ataque às políticas de Trump.
A ‘Jacindamania’
Mas o ‘fenómeno Jacinda Ardern’ não fica por aqui. Tomou as rédeas do partido, até então chefiado por Andrew Little, no primeiro dia de agosto de 2017, depois de as sondagens apontarem para um resultado catastrófico para o Labour nas eleições que se viriam a realizar em outubro. O efeito ‘jacindamania’, como ficou conhecido nas redes sociais, fez com que, no espaço de um mês, os trabalhistas neozelandeses subissem 19 pontos nas intenções de voto.
Assumindo-se desde cedo como progressista de esquerda – entrou para a política com apenas 17 anos – Jacinda prometeu durante a sua campanha aumentar o salário mínimo, introduzir um abono de família, estender a licença parental e aumentar o subsídio de habitação. Todas estas medidas serviam como meta para conseguir atingir o seu principal objetivo: tirar, até 2020, 100 mil crianças da pobreza, uma realidade que conheceu bem de perto.
Filha de um polícia, Jacinda viveu parte da infância em Murupara, no norte do país, numa zona algo problemática e com poucos recursos. De acordo com o jornal NZ Herald, depois de a sua irmã ter sido espancada na escola, a família mudou-se para Morrinsville, na região de Waikato, onde mais tarde estudou na universidade com o mesmo nome. Formou-se em Ciências da Comunicação, com especialidade em relações públicas.
‘Não sou a primeira mulher a trabalhar e a ter um bebé’
Nem só a rápida ascensão e a facilidade em alcançar acordos com partidos de fações políticas diferentes fazem Jacinta Ardern destacar-se internacionalmente. Quando se tornou na principal figura dos trabalhistas, foi confrontada com a mesma pergunta incómoda duas vezes numa só semana: se desejava ser mãe enquanto estivesse em funções.
A questão foi colocada sob o pretexto de a Nova Zelândia merecer saber se existia a possibilidade da então potencial futura primeira-ministra tirar uma licença de maternidade enquanto estivesse no cargo de chefe do Executivo. Jacinda mostrou-se disponível para responder, mas não deixou de sublinhar que esta pergunta lhe estava a ser feita puramente por sexismo.
Já em 2018, aquando do anúncio da gravidez, esclareceu imediatamente que seria «primeira-ministra e mãe» e que seria o namorado, Clarke Gayford, um apresentador de televisão, que ficaria em casa com o filho de ambos. «Não sou a primeira mulher a trabalhar e a ter um bebé», afirmou na altura, tendo dito também que tiraria apenas uma licença de seis semanas.
Em junho do ano passado, nasceu uma menina, Neve, que com apenas três meses viajou com os pais até Nova Iorque para ver a mãe discursar na Assembleia Geral da ONU, uma decisão que deixou muitos dos presentes chocados.
Jacinda tornou-se, assim, na primeira mulher a dar à luz enquanto primeira-ministra em mais de 30 anos – antes dela só Benazir Bhutto, em 1990 – e Neve a primeira bebé a ‘sentar-se’ numa Assembleia Geral da ONU.
*Editado por Mariana Madrinha