Dito isto, como já tem sido escrito profusamente, o mercado das companhias aéreas tornou-se ainda mais feroz ao longo dos últimos anos, cimentado pela entrada no mercado das chamadas ‘low cost’ ainda durante a década passada.
Como está na moda dizer, as ‘low cost’ vieram democratizar ainda mais as viagens de avião, principalmente no médio curso, reduziram preços duma forma avassaladora, passando a colocar a qualidade de serviço em segundo plano. Esta profunda alteração originou inevitavelmente problemas, na sua maioria de ordem financeira, que colocaram em causa muitas companhias aéreas, o que tornou o tema da eficiência operacional o segredo do negócio.
A TAP tem sido, neste capítulo, como noutros, uma empresa distinta. E vale a pena realçar esta sua capacidade de se reinventar, o estar a transportar cada vez mais passageiros, com novas rotas, novos mercados e a funcionar com hub transcontinental, na ligação Europa – América do Sul – América do Norte – África e Ásia. A estratégia da TAP é ambiciosa, mas acertada, e tem como peça basilar a nova frota de aviões Neo, mais eficiente e menos poluente, o que a moderniza e capacita para os seus futuros desafios. Mas não deixa de ter problemas por resolver, nomeadamente operacionais, que exigirão muito da sua equipa de gestão, colaboradores, stakeholders.
A TAP apresentou os resultados de 2018, que foram maus. Há que dizê-lo. Assim como teve graves problemas de atrasos em 2018, que já estão a ser resolvidos e em 2019 já se consegue comprovar melhorias. Mas estes problemas refletem um erro de política do Governo atual? Não. É até tendencioso afirmá-lo. Foi um erro a recompra de 50% da TAP? Não se pode retirar conclusões dessa natureza sobre uma decisão que foi estratégica e de longo prazo. Os resultados refletem um mau ano, sem dúvida, cujas causas já foram explicadas detalhadamente pelo seu CEO, Antonoaldo Neves, que já apresentou medidas para evitar a mesma situação em 2019.
Mas, mais importante que isso, e quem analisa de perto a situação da TAP sabe, os acionistas privados da empresa efetuaram recentemente uma reorganização das suas participações. David Neeleman, acionista da Atlantic Gateway (detentora de 45% do capital da TAP), adquiriu a participação que a HNA detinha indiretamente na TAP via Atlantic Gateway, que era equivalente a 9% do seu capital social, por 49 milhões de euros. Relembre-se que este mesmo David Neeleman tem a seu cargo a gestão executiva da TAP, aliás, todos os membros da Comissão Executiva da TAP foram nomeados por ele e Humberto Pedrosa, tal como acordado com o Governo português.
Esta reestruturação acaba por ser um sinal de confiança acrescida na companhia e no seu futuro, mesmo já sabendo do prejuízo de 118 milhões de euros em 2018. Já agora, alguém reparou que ele tinha adquirido 61% da TAP no âmbito do processo de privatização fechado em novembro de 2015 por pouco mais de 10 milhões de euros? E que, de acordo com o previsto nesse processo de privatização, já estaria hoje com 100% da TAP sem ter de pagar mais nada ao Estado português? E pagou agora 49 milhões por 9%? Mas o risco não aumentou? É o que tenho lido por aí…
Dá que pensar… Será que David Neeleman se equivocou agora, quando tem mais informação sobre a empresa e o seu potencial? Ou será que o Estado português vendeu a TAP em 2015 ao preço que fosse só para despachar a TAP? Olhando para esta operação em concreto, a TAP já está a ser avaliada pelos acionistas privados num valor superior a 500 milhões de euros. Eu considero isto um ‘facto relevante’.