O partido do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, está a contestar os resultados das eleições locais turcas de domingo passado, depois de ter sofrido a mais pesada derrota desde 2001, quando chegou ao poder. Ancara foi conquistada pelo Partido Popular Republicano (CHP), da oposição, e os resultados eleitorais de Istambul estão a ser alvo de contestação. O CHP conseguiu uma vantagem de 28 mil votos (0,28%) sobre o AKP, mas este último não hesitou em declarar vitória na cidade – o presidente da Alta Comissão Eleitoral turca, Sadi Guvin, apoiou os resultados do CHP.
«O povo votou a favor da democracia, escolheu a democracia», disse Kemal Kilicdaroglu, líder do CHP, na noite eleitoral. Já Erdogan optou por declarar que «mesmo que o nosso povo tenha abdicado da maioria, deram ao AKP os distritos» de Istambul. Nos resultados totais, o AKP conquistou 51,7% dos votos, num ato eleitoral muito participado: 84,52%. Pouco depois, o AKP anunciou que iria contestar os resultados – os partidos têm até três dias após o ato eleitoral para o fazerem.
A campanha de dois meses redundou na maior derrota sofrida por Erdogan desde que começou a sua carreira política como presidente da Câmara de Istambul, de onde transitaria para a liderança do Governo turco como primeiro-ministro. Mais tarde, tornou-se Presidente e desde o golpe de Estado falhado de 2016 que tem levado a cabo uma estratégia de concentração de poder em si próprio. Avançou com um referendo a 18 emendas da Constituição que davam mais poderes ao chefe de Estado e ganhou-o e, depois, saiu vitorioso das presidenciais de 2017. A sua governação parecia inabalável, pelo menos até ao domingo passado.
Erdogan também avançou com uma gigantesca repressão aos seus críticos, seja no Estado seja em organizações da sociedade civil. Deteve mais de 40 mil pessoas e demitiu outras 140 mil de cargos públicos, ordenando pelo meio o encerramento de 150 órgãos de comunicação social. Acusou os seus críticos de estarem de alguma forma ligados ao golpe de Estado ou ao seu ideólogo, o outrora seu aliado, e mais tarde inimigo, Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos. Com esta derrota, Erdogan deixou de ser o líder imbatível que em tempos deu sinais de ser.