Refugiado na embaixada do Equador em Londres, Reino Unido, desde 2012, Julian Assange, de 47 anos e fundador do Wikileaks, foi hoje detido pela polícia britânica e considerado culpado pelo Tribunal de Westminster de não se ter apresentado ao tribunal. Agora, vai ser extraditado para enfrentar acusações de conspiração nos Estados Unidos por ter divulgado informação classificada em 2010, confirmou a advogada de Assange, Jennifer Robinson.
“Isto marca um perigoso precedente. Qualquer jornalista pode ser extraditado para ser acusado nos Estados Unidos por ter publicado informação verdadeira sobre os Estados Unidos”, disse aos jornalistas.
A detenção de Assange só foi possível por o presidente equatoriano, Lenín Moreno, ter retirado o estatuto de asilo político ao jornalista australiano.
Assange recusou abandonar a embaixada afirmando que seria extraditado, mas sem a proteção das autoridades equatorianas a polícia pôde detê-lo sem problemas de maior – Assange ainda resistiu à detenção fazendo corpo morto. Pouco depois de ser eleito presidente, Moreno caracterizou Assange como “pedra no sapato” para o Equador.
No entanto, o antigo presidente do Equador Rafael Correa denunciou no Twitter a real razão para a expulsão de Assange da embaixada: “Julian Assange foi expulso da embaixada do Equador por expor a corrupção do presidente Lenín Moreno nos Panamá Papers. A conta secreta de Moreno (lavagem de dinheiro): 100-3-1071378. Banco Balboa Panamá”.
Não foi a única reação. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse “não saber sobre o Wikileaks”, quando na campanha presidencial de 2016 lhe teceu rasgados elogios por ter divulgado emails da então candidata democrata Hillary Clinton, dando-lhe munições no combate político. Além disso, sabe-se que o seu filho, Donald Trump Jr., trocou mensagens com Assange.
Também Edward Snowden, responsável pela denúncia do sistema de vigilância da NSA norte-americana, reagiu dizendo que a detenção de Assange é um “momento negro para a liberdade de imprensa”. Snowden vive na Rússia, para onde fugiu depois de ter denunciado a história da vigilância ao jornalista Gleen Greenwald, do Guardian. “A fraqueza da acusação dos Estados Unidos contra Assange é um escândalo”, disse Snowden no Twitter.
Por sua vez, o ministro do Interior britânico, Sajid Javid, disse na Câmara dos Comuns que a decisão do Equador “reconhece que o sistema criminal de justiça britânico protege os direitos e, ao contrário do que Assange e os seus apoiantes afirmam, os seus legítimos interesses serão protegidos”. Caso o jornalista australiano seja extraditado para os Estados Unidos, poderá enfrentar uma pena de prisão de até cinco anos. Por agora, Assange vai contestar a extradição nos tribunais britânicos.