Dezenas de milhões de indianos votaram ontem, parte dos 900 milhões de eleitores registados para as maiores eleições do mundo – um processo que dura mais de seis semanas. Os eleitores indianos representam mais de 10% da população mundial e a tensão tem sido elevada, com confrontos violentos – que já causaram pelo menos dois mortos. Uma bomba foi detonada num local de voto, no estado de Chhattisgarh, onde estão ativos rebeldes maoístas, mas não causou feridos.
As sondagens dão vantagem ao atual primeiro-ministro, Narendra Modi, do partido nacionalista hindu BJP, que teve uma vitória esmagadora nas eleições de 2015. Modi tem capitalizado o conflito com o Paquistão para ganhar votos, polarizando tensões entre hindus e muçulmanos. O ódio contra os 200 milhões de muçulmanos indianos tornou-se cada vez mais marcado – chegando a haver linchamentos de muçulmanos acusados de matar vacas, um animal sagrado para os hindus. O velho sistema de castas também se faz sentir, com relatos de que muitos dalits – antigamente conhecidos como intocáveis – foram impedidos de votar no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia.
Apesar do apelo ao conservadorismo hindu, Modi dificilmente alcançará um resultado semelhante ao de 2015, tendo até perdido controlo de alguns estados importantes nas eleições locais de dezembro. Este descontentamento está relacionado com a quebra do crescimento económico, contrariamente ao prometido pelo primeiro-ministro. A taxa de desemprego da Índia está nos níveis mais altos desde a década de 1970, especialmente entre os jovens, enquanto milhões de agricultores enfrentam a miséria, sendo obrigados a vender as suas terras devido à baixa do preço dos produtos agrícolas.
Modi é desafiado eleitoralmente pelo crescimento de vários partidos regionais e pelo ressurgimento do partido do Congresso, que liderou o país durante décadas – apesar de ter tido uma grande quebra eleitoral nas últimas décadas. O partido do Congresso é liderado por Rahul Gandhi – filho, neto e bisneto de antigos primeiros-ministros indianos. Rahul parece reconhecer que a maioria dos críticos de Modi são motivados por anseios económicos, a que respondeu propondo um programa de rendimento mínimo – que beneficiará os 50 milhões de famílias mais pobres do país.