Os líderes europeus forçaram a primeira-ministra britânica, Theresa May, a aceitar uma extensão da data limite de saída da União Europeia mais longa do que desejava. May foi a Bruxelas pedir um adiamento até 30 de junho, saindo de lá com uma extensão até 31 de outubro, no Halloween – com a possibilidade de uma saída antecipada, caso consiga aprovar um acordo no Parlamento britânico.
A nova data implica que o Reino Unido vá às eleições europeias, de modo a ter representação no próximo parlamento europeu, que toma posse a 1 de julho. A primeira-ministra tinha afirmado anteriormente que seria «inaceitável» para o público britânico ter de eleger um novo grupo de eurodeputados, três anos depois de ter votado para sair da UE – mas parece ter mudado de opinião desde então.
Este cenário causou a fúria dos conservadores eurocéticos e dos seus aliados do Partido Unionista Democrático (DUP), que acusam a primeira-ministra de estar no bolso de Bruxelas, chegando alguns deputados a exigir a sua demissão de May, devido «à rendição abjeta» que consideram ter sido a aceitação dos termos oferecidos pela UE.
A primeira-ministra britânica apressou-se a pedir aos deputados britânicos que utilizem a pausa dos trabalhos parlamentares da Páscoa para refletir sobre o seu «dever nacional» de «encontrar um caminho para sair deste impasse», de modo que o Reino Unido «possa sair com um acordo da União Europeia o mais cedo possível» – de preferência antes das eleições europeias, marcadas para 23 de maio.
Perante o desgaste dos laços entre May e os deputados eurocéticos do seu partido, todas as expectativas estão centradas nas negociações entre a primeira-ministra e o líder trabalhista, Jeremy Corbyn. No horizonte surge cada vez mais a possibilidade de se acrescentar uma união alfandegária ao acordo negociado entre May e a UE, como pretende o líder da oposição. Ainda há poucas semanas, quando houve votos indicativos no Parlamento, o cenário que suscitou mais adesão foi o de uma união alfandegária, que ficou a apenas três votos de ser aprovado – e parece cada vez mais próximo de ter o apoio da primeira-ministra.
«Acredito que há muito mais concordância quanto a uma união alfandegária do que em geral se assume», reconheceu May, que acrescentou querer «obter os benefícios de uma união alfandegárias – sem tarifas, sem regras de verificação de origem e sem cotas». Mas também quer que o Reino Unido seja capaz de ter «uma política comercial independente».
Os dois objetivos da primeira-ministra parecem à partida inconciliáveis, mas alguns líderes europeus já se mostraram disponíveis para fazer cedências nesse sentido – como é o caso do primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, que considerou que o Reino Unido não pode tornar-se um «parceiro silencioso» numa futura união alfandegária, apelando a que a UE seja «generosa» nas negociações pós-Brexit.
Este apoio europeu a uma união alfandegária reforçou a posição de Corbyn, que à semelhança de May está a braços com o descontentamento de parte dos seus deputados. No caso do Partido Trabalhista, os dissidentes são os europeístas, que recusam qualquer hipótese de saída da União Europeia e exigem um segundo referendo ao Brexit. Apesar de estarem longe de conseguir uma maioria no Parlamento, o anúncio de que o Reino Unido vai às eleições europeias afastou por agora o receio dos europeístas de uma saída automática a 1 de julho.
As preparações das europeias têm decorrido com urgência por todo o Reino Unido – as listas terão de ser apresentadas já a 25 de abril, quando muito pouco tinha sido feito para as preparar. Estas eleições acabarão por funcionar como um barómetro do sentimento britânico quanto ao Brexit, ganhando grande peso político – apesar de se perspetivar que os novos eurodeputados tenham um mandato muito mais curto. Os conservadores já anunciaram que vários dos seus atuais eurodeputados não voltarão a candidatar-se, dado muitos deles terem aceitado outros cargos, na expectativa de uma saída iminente da UE.