É um dos nomes que mais tem dado que falar na política norte-americana. Com apenas 28 anos desafiou o ‘establishment’ e conseguiu chegar à Câmara dos Representantes, naquela que foi, provavelmente, a vitória mais improvável na política americana do último ano.
Alexadria Ocasio-Cortez é atualmente um dos novos rostos do partido Democrata. Alvo de muitas críticas, mas também de louvores, levou até Steve Bannon, antigo estratega de Trump, a elogiar a sua postura. Numa entrevista ao El País, Bannon afirmou não estar de acordo com as ideias da congressista, apesar de achar que, atualmente, «ela é a estrela rock número um na política dos Estados Unidos». «Agora é tão poderosa como Nancy Pelosi [presidente da Câmara dos Representantes], mas apenas há um ano era empregada de mesa e fazia o turno da noite. Hoje come à mesma mesa que Trump e Pelosi. E estamos a falar da nação mais poderosa do mundo». Para Bannon, os conhecimentos de Ocasio-Cortez são «completamente equivocados», nomeadamente no que respeita à economia. Ainda assim, reconhece, «tem algo que não se treina». «[Na política] precisamos mais de empregadas de mesa e menos de advogados», concluiu.
‘Mulheres como eu não é suposto concorrerem a cargos públicos’
Foram precisamente as suas raízes humildes que a catapultaram para o lugar em que se encontra hoje. Filha de uma porto-riquenha e de um pai natural do Bronx, Alexandria Ocasio-Cortez nasceu e cresceu numa comunidade modesta em Nova Iorque. As dezenas de quilómetros diários que fazia para ir para a escola não a desmotivaram de estudar, tendo-se formado em economia e relações internacionais pela Universidade de Boston.
Devido à morte precoce do pai, vítima de cancro, e às consequentes dificuldades financeiras que surgiram, viu-se obrigada a regressar ao Bronx, onde trabalhou num bar e como empregada de balcão, chegando a fazer turnos de 18 horas – e fez da sua experiência de vida mote para a campanha política. Chegou até a dizer que mulheres como ela «não é suposto concorrerem para cargos públicos», uma clara explicação de que não provém de uma família com posses, nem foi educada para enveredar pela política. Ainda assim, e com alguma experiência no ramo – colaborou na campanha presidencial de Bernie Sanders, em 2016 – decidiu concorrer.
‘Millenial’ versus ‘democrata das grandes empresas’
Apoiada maioritariamente por doações, gastou apenas 300 mil dólares, contra os 3,3 milhões gastos por Crowley, o seu principal adversário e claro favorito à vitória. Joe Crowley contava já com dez eleições vitoriosas e era até apontado como o provável sucessor de Nancy Peloti como líder dos democratas no Congresso.
No entanto, as primárias para o 14.ª distrito de Nova Iorque foram mesmo ganhas por Ocasio-Cortez, com 57,5% dos votos, para espanto de grande parte do mundo e da própria Alexadria. Ao perceber que tinha ganho, uma expressão de surpresa desenhou-se no seu rosto. A eleição de uma «millenial» contra «um democrata das grandes empresas» – as palavras são mesmo da congressista – veio implementar uma mudança geracional, rompendo com a prática política tradicional do partido.
«A minha mãe limpava casas, conduzia autocarros escolares e, quando a família estava à beira da falência, comecei a servir como ‘bartender’ e empregada de mesa. Eu entendo a dor da classe trabalhadora americana, porque passei por ela». Foi com declarações como esta, bem como com ideias não alinhadas com as que representam o partido que conseguiu ir angariando votos. Fazendo um uso inteligente das redes sociais, principalmente do Twitter, onde tem mais de dois milhões de seguidores, foi expondo as suas ideias e defendendo-se dos ataques de que vai sendo alvo.
Ocasio-Cortez fez do ‘Green New Deal’ uma das suas bandeiras de campanha, o que não gerou consenso entre democratas e lhe valeu palavras de desapreço por parte dos republicanos. Inspirado no New Deal de Roosevelt, esta proposta visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa dos EUA, implementando energias renováveis. Além disso, prevê também a criação de milhões de empregos, de forma a dar uma garantia de trabalho a todos os americanos e também o acesso a água e ar de qualidade, bem como um ambiente sustentável.
A congressista vai mais longe e sublinha a urgência da criação de um sistema nacional de saúde para todos, a abolição das propinas no ensino superior e a abolição da Agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira do Governo. O aumento dos impostos para os mais ricos faz também parte dos seus objetivos: ideias ‘revolucionárias’ que agradaram a uma maioria dos eleitores mas que lhe valeram muitas críticas, principalmente da ala republicana.
O antigo governador do Wisconsin, Scott Walker, que foi derrotado no passado mês de novembro, ridicularizou a proposta de Ocasio-Cortez. Através do Twitter, afirmou que até uma criança compreende mais sobre o assunto. A congressista, como já tem sido habitual, não se deixou ficar e respondeu, explicando que a sua ideia é a de taxar «os multimilionários que fazem toneladas de dinheiro pagando pouco aos trabalhadores».
A presença de Alexadria Ocasio-Cortez também não tem passado despercebida a Donald Trump, que a apelidou de «jovem ‘bartender’ maravilhosa», palavras que denotam um claro menosprezo. Mas quando foram pedidas declarações ao Presidente sobre o facto de Ocasio-Cortez o ter acusado de ser racista, respondeu com desdém. «O que é que isso interessa?», questionou. No Twitter, a congressista respondeu: «Nós conseguimos irritá-lo».
*Editado por Mariana Madrinha