Os hoteleiros do Algarve pediam medidas face ao previsto rombo no turismo da Páscoa, assim como o setor do turismo em geral. A apreensão já era generalizada, com a perspetiva de as famílias ficarem paralisadas em plena época pascal.
Os portugueses espantaram-se com a velocidade e eficácia do ataque, com a rapidez com que ficaram à mercê das circunstâncias, como em poucas horas lhes podem virar a vida toda de alto-a-baixo.
O ser humano sempre esteve à mercê dos elementos: um terramoto, um tsunami, umas cheias (como as de Moçambique), uns incêndios (como o de Pedrógão Grande), e modernamente já se habituou a sofrer também com os ataques terroristas (11 de setembro).
Estes acontecimentos – desde os ataques terroristas às greves no setor da energia ou das telecomunicações –, conseguem paralisar um país porque atacam o coração das modernas formas de vida.
A fúria da natureza provoca mais estragos mas é aceite com menor perplexidade. Pessoas a atacar outras pessoas, governos que governem mal, geram outro tipo de revolta.
Face à perturbação causada em escassas 24 horas, à ansiedade generalizada da população, é preciso ser muito responsável e saber gerir a crise.
Na terça-feira, enquanto os lisboetas já faziam filas nas bombas de combustível, Fernando Medina saía-se com graçolas infantis na rede social Twitter. Publicava uma fotografia das bicicletas Gira com a seguinte legenda: «Aproveite. Estas têm o depósito cheio». É não ter noção daquilo por que as pessoas estavam a passar e ainda gozar com a desgraça alheia. É o tipo de atitude que um governante não pode ter.
Mal sabia ele que, na quarta-feira, seria noticiado que os serviços mínimos deixavam de fora a sua Carris (empresa municipal de Lisboa).
Face à corrida aos combustíveis – e perante uma possível corrida aos supermercados, com algumas notícias saídas na quarta-feira dando conta de que existiriam dificuldades de abastecimento caso a situação se mantivesse – exigia-se uma gestão da crise irrepreensível. É isso que as pessoas esperavam do seu Governo e da sua Câmara. E tal nem sempre aconteceu.
O assunto foi sério e o caso esteve feio. As esquerdas, que rejubilaram quando meia dúzia de gatos-pingados quis imitar os coletes amarelos de França, podem ficar a perceber de repente que, quando é a sério, quando a revolta é genuína, as coisas ficam mesmo negras.
sofiarocha@sol.pt